Numa semana em que a redução do gás entrou na agenda política europeia dividindo governos, as condições meteorológicas colocaram-nos sob uma terrível canícula, impondo-nos mais outra prioridade: reduzir o consumo de água. Atualmente, em Portugal, esse consumo urbano por habitante é de 189 litros por dia. É excessivo.
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Ninguém duvida de que entrámos numa nova era, a da desregulamentação climática. Precisamos de outras políticas, mas necessitamos sobretudo de novos estilos de vida. E nesses outros modos de assumirmos quotidianos mais amigos do ambiente e mais propensos a construir uma casa comum mais sustentável, impõe-se reduzir, entre outras coisas, emissões de carbono e consumos de água.
Se pensarmos bem, a água ocupa um lugar central no conjunto das atividades que estruturam uma sociedade. Sem água, não são apenas os sistemas alimentares que colapsam. Também os sistemas industriais e energéticos entrarão em crise. E isso deveria preocupar-nos. Muito.
Com as variações climáticas, os solos estão cada vez mais secos e os caudais hídricos reduzem-se substancialmente. Vários estudos colocam um quarto da população mundial em situação de stress hídrico. As guerras da água que pensávamos estar circunscritas ao Médio Oriente, África e América central começam a evidenciar-se perto de nós. É certo que não vivemos conflitos como aqueles que opõem o Egito e a Etiópia na disputa pela água do Nilo, mas em várias geografias temos frente a frente agricultores e ecologistas com visões díspares quanto às prioridades do cultivo e, mais ainda, de regadio. Esta semana, na revista "L"Obs", dava-se conta dessa conflitualidade, já manifesta, em várias regiões francesas. Também nos últimos dias, noticiou-se que a maior albufeira do maior rio da Península Ibérica, o Tejo, chegou ao verão com apenas 48 por cento da capacidade ocupada. De seu nome Alcântara, a poucos quilómetros de Portugal.
A penúria da água é um problema ambiental, mas também social, que exige outras políticas públicas, outros controlos e outros consumos. Precisamos de medidas mais eficazes para racionalizar a água. Um exemplo: em Portugal, como em outros países, a eficiência hídrica dos edifícios está por priorizar. Serão poucas as habitações com equipamentos que reduzam o caudal ou quantidade de água despendida ou que tenham dispositivos para reaproveitamento das águas cinzentas ou aproveitamento das águas da chuva. Cada um à nossa medida, também sonhará, sobretudo quando as temperaturas sobem, com uma copiosa piscina, não racionalizando os litros de água que isso exigiria.
Há, pois, um longo caminho para dar à água o lugar que merece: o da condição para a nossa sobrevivência.
*Prof. associada com agregação da UMinho