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Servir a causa pública implica dialogar, negociar e agir no sentido de alcançar mudanças prementes na realidade. Foi assim com a aprovação, pela mão do PAN, da recente alteração à Lei da Água, que traz alguma esperança quanto à alteração do paradigma vigente em Portugal. De facto, entre outras garantias, o PAN assegurou a exigência de avaliação do gasto de água antes da aprovação do licenciamento de atividades económicas e a obrigatoriedade de práticas agrícolas sustentáveis com recurso à agricultura biológica, regenerativa ou equiparada nas margens dos rios.
Esta conquista é tão mais simbólica quando, mesmo antes do início da COP28, são aprovados objetivos de restauro da natureza numa Europa em que apenas 15% dos habitats se consideram em bom estado, na qual 70% dos solos se encontram em estado de insalubridade e onde os rios têm mais de um milhão de barreiras artificiais, como barragens, açudes e rampas (o restauro da natureza traz o compromisso de eliminar barreiras obsoletas para melhorar o estado das águas da União Europeia e reforçar a biodiversidade). A produtividade agrícola depende de solos saudáveis, por isso, não se compreende como é que, paralelamente, surge a recomendação da Comissão Europeia para o uso de glifosato ou equiparados durante mais 10 anos e se mantém o financiamento à pecuária intensiva, uma indústria imoral e poluente.
Neste âmbito, aproveito para recomendar uma exposição (até ao próximo dia 3 de dezembro) na Galeria da Biodiversidade-Centro de Ciência Viva da Universidade do Porto, em torno do conceito de “water school”, que mostra a nossa pegada hídrica e como uma alimentação de base vegetal responde aos desafios atuais. Trata-se de um estúdio de investigação do design que, na sua intervenção, transforma a habitação, a vida e o trabalho através da consciência e deixa claro que as decisões políticas têm de ser coerentes com o que sabemos, que as decisões políticas sobre o que comemos têm de atingir objetivos de soberania alimentar e de incentivar a produção alimentar ética e com menor pegada hídrica.