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A notícia é preocupante, uma vez que a hipótese de alguns troços do leito do rio Tejo poderem secar dá bem a ideia da dimensão do problema em que se está a transformar a contínua e inexorável falta de água, elemento essencial à vida e a uma miríade de rotinas que constituem o nosso quotidiano, que garantem a nossa sustentabilidade, presente e futura.
Voltamos a falar do alargamento da plataforma continental, sendo de registar a forma séria como a ministra do Mar abordou o tema, salientando que, sendo óbvia a importância estratégica do projeto, os efeitos do mesmo só serão evidentes a médio/longo prazo. Não confundir as dimensões operacional e tática com a dimensão estratégica da política para a economia do mar será decisivo para poder obter resultados positivos e consistentes. A capacidade de investigação, desenvolvimento e inovação nas áreas tecnológicas, nomeadamente nos domínios da robótica submarina, sistemas de navegação, segurança e eletrónica, são apostas que podem produzir resultados mais imediatos, frutos do esforço em investigação de translação que tendo vindo a acontecer em instituições como o Inesc, Cimar, Inegi e IST, entre outros. Pelo contrário, áreas do conhecimento como a biotecnologia marinha ou a produção de energia a partir das ondas do mar exigem tempos de maturidade das tecnologias envolvidas mais longos, até poderem atingir condições de disponibilidade de mercado. Finalmente, o objetivo de alargamento da plataforma continental implicará ainda mais paciência e resiliência, o que obrigará a uma continuidade estrutural política por várias décadas. É muito positivo podermos afirmar que este tema tem sempre sido acarinhado pelos sucessivos governos, desde que, em 2002, o grupo de investigação liderado pela prof.ª Fátima Abrantes conseguiu motivar o poder político para colocar este desafio na sua agenda de prioridades.
Percebemos também que para além da gestão quotidiana do problema dos incêndios e das suas consequências, há uma evidência que emerge, revelando um país com uma ocupação desordenada de boa parte do seu território, não só consequência da progressiva concentração da população no eixo litoral, mas também da incapacidade de implementar uma política alternativa no domínio agrícola e florestal. Mais do que uma reforma florestal, com marcas administrativistas e dogmáticas, também neste caso importará desenvolver um modelo translacional com base no muito conhecimento existente, que não sendo uma solução imediata, vá diminuindo a prazo este permanente drama estival.
PROFESSOR CATEDRÁTICO DA U. PORTO