A América deixou-nos em suspenso. A América pregou-nos uma partida. A América assustou-nos a sério.
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A partir de agora ninguém vai achar que um candidato é demasiado extremista, demasiado fora da caixa, demasiado desbocado ou mesmo demasiado cor de laranja para ganhar seja o que for.
A partir de agora ficamos a saber que temos de lidar com o desconforto de ver na política executiva alguém que não faz parte do clube. E, entendamo-nos, por pior que digamos do establishment, este sempre nos dá o calor de uma certa etiqueta que tem, pelo menos, a vantagem de não nos sobressaltar.
E como a moda pega, já estamos todos assustados com o que por aí pode vir do lado europeu. E não se pense que o fenómeno se esgota com os extremismos e fundamentalismos que conhecemos porque esses, por França, pela Holanda ou pela Hungria, ainda se confinam razoavelmente ao modus operandi instituído.
Pode e irá despertar um outro conjunto de personagens, cada vez mais descontextualizados das regras e dos círculos que fomos construindo pelo menos desde a Revolução Francesa.
Mas o mais assustador em Donald Trump não são bem as suas (vagas) ideias. Ainda que o sistema de checks and balances se tenha atenuado bastante pelo assalto dos republicanos aos principais amortecedores do mecanismo de governação política americana, não vejo como o novo presidente eleito poderá inventar demasiado nas políticas produtivas, comerciais, sociais, ou até nas de defesa e relações externas. Para o bem ou para o mal, o movimento de globalização é imparável e os interesses corporativos e individuais não confundem patriotismo com protecionismo.
O mais assustador em Donald Trump é a sua imprevisibilidade. Dominar os impulsos e escolher a prudência é obra para muitos anos de uma aprendizagem que Trump não fez. A manifesta impaciência do seu discurso e o autoritarismo próprio do seu percurso podem causar as piores ondas de choque e os mais imponderáveis resultados.
Numa ordem mundial assente em dois sistemas, o financeiro e o mediático, ambos ultrassensíveis à volatilidade, como coexistir com um presidente que se comporta como um fole de atiçar?
Veremos!
Por agora, o mais impressionante é tomar consciência de que sucede a um prémio Nobel da Paz e foi eleito por uma larga maioria branca e cristã.
* ANALISTA FINANCEIRA