A crescente inflação e o aproveitamento da especulação por algumas empresas - acima de tudo este aproveitamento - são questões alarmantes e precisam de ser, de uma vez por todas, levadas a sério. Os preços altos dos bens essenciais já deixaram há muito de ser apenas uma consequência menor da guerra na Ucrânia, que os portugueses até encaravam como compreensível e suportavam. O aumento constante da inflação chegou a um ponto que impacta diretamente a qualidade de vida da população e transforma a sobrevivência diária numa missão mais difícil a cada dia que passa.
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Em fevereiro deste ano, um cabaz monitorizado pela DECO PROTESTE atingiu o valor recorde de 234,84 euros, face aos 183,63 euros que custava em 23 de fevereiro de 2022 e aos 192,28 euros que custava na véspera do início da guerra na Ucrânia. Um pacote de farinha custa, atualmente, 1,78€. Um quilo de cebola aumentou 79% e custa agora 1,88€, face a fevereiro de 2022. O leite meio-gordo aumentou 29 cêntimos e custa agora, praticamente, um euro (e os produtores de leite continuam a não receber o suficiente para suportar os custos de produção). Todos estes valores são inexplicáveis.
A guerra na Ucrânia e a limitação da oferta de matérias-primas têm de facto pressionado ainda mais um setor que já estava a enfrentar dificuldades devido à pandemia da Covid-19. No entanto, a inflação deixou há muito de ser uma consequência da guerra. No cerne do problema, temos algo ainda mais grave: a especulação de preços.
Prova disso são os diversos processos criminais e contraordenações que a ASAE tem vindo a instaurar contra empresas que estão a aproveitar-se desta situação para obter lucros exorbitantes, prejudicando assim a população mais vulnerável.
Face a esta conjuntura, finalmente, o governo agiu: 40 produtos do cabaz essencial, atualmente taxados a 6%, vão ser isentos de IVA a partir de abril. Após um ano de guerra e 3 meses depois da medida ter sido aplicada em Espanha, os portugueses poderão finalmente comprar alguns bens essenciais sem taxa de IVA, por 6 meses.
Recentemente, António Costa fez uso do ditado: "em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão". Contudo, face à subida de preços dos bens, que tornaram a vida das pessoas cada vez mais difícil, não poderão estes portugueses ralhar com razão? E se esta medida é suficiente para as famílias, por que tardou a vir?
A especulação é um dos piores males da economia uma vez que desequilibra os preços e prejudica a população mais vulnerável. Empresas gananciosas que se aproveitam da situação para obter lucros exorbitantes são uma ameaça real. Esperemos, agora, que a ação tardia não prejudique a população mais pobre. A política deste governo tem uma base ideológica para criar muitos pobres que dependam diretamente das "migalhas" do Governo para sobrevirem. Temos um Governo que não valoriza a iniciativa privada, não a regula e não a incentiva. A responsabilidade do governo é regular/proteger a economia e as pessoas que dela dependem. Mas será que o governo ainda vai a tempo de proteger a população e calibrar a economia do País?
*Vereador e presidente da UGT Vila Real