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A 30 de outubro de 2012, com Portugal em pleno resgate financeiro e com o cinto bem apertado, o então banqueiro Fernando Ulrich disse uma frase que define as últimas duas décadas: “O país aguenta mais austeridade?... ai aguenta, aguenta!”. Passados quase 11 anos, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, por outras palavras, vem dizer-nos o mesmo. O BCE continua a aumentar as taxas de juro, apesar dos graves sinais de congelamento da economia europeia. O custo do dinheiro com uma taxa de 4,5% é o valor mais elevado desde 2001.
A política monetária de Lagarde pode ser comparada a um acidente de viação, em que, naqueles milésimos de segundo, sabemos que vamos chocar mas não antecipamos se contra uma mota ou um camião. Ou seja, este aumento exponencial dos juros traz uma crise, só não sabemos onde ela irá parar.
Os dados sombrios de crescimento da Zona Euro convida-nos a reconsiderar uma política monetária que está a atingir duramente os bolsos dos portugueses por muitos “caldos de galinha” que António Costa e Fernando Medina inventem.
Na verdade, o BCE mantém a sua escalada com a firme intenção de conter a inflação, sabendo que tal intenção provoca uma recessão. Numa análise mais fina, todos sabemos que os efeitos dos anteriores aumentos de taxas e a persistência da inflação respondem mais à evolução do preço da energia do que ao sobreaquecimento da procura interna. Traduzindo: o que está a fazer Christine Lagarde não tem qualquer efeito na inflação porque ela advém dos aumento dos combustíveis, da eletricidade e do gás.
O próprio BCE admite que está a operar com base numa variável - o consumo e o investimento dos europeus - que não é a principal causa da escalada de preços. Sendo assim, a luta contra a inflação não pode ser delegada, exclusivamente, numa instituição cujos instrumentos não conseguem abordar todos os fatores subjacentes.
Esta combinação de preços elevados, risco de recessão e taxas de juro elevadas é um cocktail explosivo que pode acabar por impactar na estabilidade financeira das economias mais frágeis, como a portuguesa.