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Um professor universitário disse-me, certo dia, uma verdade daquelas que até brilham devido à sua simplicidade e adesão à realidade: quando deixamos um cargo e tudo fica a funcionar bem, essa é a prova da nossa competência. Acrescentaria apenas duas características: humildade e desapego. Joe Biden demorou a alcançar esse estádio, mas acabou por chegar lá.
Sem querer tirar o mérito a Nuno Borges, que bateu Rafael Nadal, um dos melhores tenistas de sempre, a verdade é que o feito do português carece de algum contexto. “Até uma parte de mim queria que o Rafa ganhasse”, confessou Borges. Na realidade, Nadal dificilmente voltará a ser o terror dos courts, simplesmente porque a acumulação de lesões e a idade tornaram claros os seus limites. Durante o Euro 2024, uma comentadora da nossa praça também disse algo muito simples a propósito de Cristiano Ronaldo: quando alguém bate à nossa porta, perguntamos “quem é” ou “quem foste”?
Não deixa de ser curioso o destino contrastante entre quem soube sair no tempo certo e quem pensou que só a morte o afastaria do cargo. Em 2013, o Papa Bento XVI renunciou, invocando a idade avançada e a falta de forças físicas e mentais necessárias para continuar a desempenhar funções. Foi a primeira renúncia de um Papa em quase 600 anos. Passando do âmbito religioso para o plano do amor clubístico, em 2024, Pinto da Costa insistiu em recandidatar-se à presidência do F. C. Porto. O seu rival bem tentou equilibrar o discurso entre a necessidade de enfrentar o futuro com novas ferramentas e o respeito por um legado indiscutível. Não havia necessidade de assistir a um desfecho daqueles. Todos temos o nosso tempo. Biden poderia ter acordado mais cedo, mas mais vale tarde do que nunca.