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Uma Árvore, no coração da cidade - "Recorta-se na cinza ou na luminosidade dos dias, todos os dias. Singular, singularíssima. Dá frutos todo o ano. Frutos que se desprendem, que são festa de liberdade sobre os telhados do casario. Frutos únicos e diversos: de sonho, de angústia, de procura, de inquietação e de futuro. Frutos coloridos de fogo e cerâmica, de gravura, de pintura. Frutos de vidro e frutos de palavras. Alguns são corpos de mulher. Frutos saídos das mãos, do olhar, da mente e do coração dos artistas, seus ramos, suas raízes fundas. Esta ÁRVORE vive e cresce num jardim, em socalcos, entre japoneiras antigas. Mira gaia e mira o rio que a enche de luz ou a veste de névoa, ali no Passeio das Virtudes [...] A sua sombra, porém, estende-se a todo o país [...]."
Luísa Dacosta, in "Árvore das Virtudes" 2001.
A Árvore - Cooperativa de Actividades Artísticas, CRL, é uma cooperativa cultural e artística, reconhecida pelo Estado português como um organismo privado de utilidade pública. Fundada em 2 de abril de 1963 por artistas, escritores, arquitetos e intelectuais, interessados em criar novas condições para a produção e difusão da arte e da cultura, mas também para uma efetiva intervenção cívica. Nomes como José Rodrigues, Armando Alves, Jorge Pinheiro, Ângelo de Sousa, José Pulido Valente, Laureano Ribatua, Lima de Carvalho, Maria Manuel Nogueira, Manuel Pinto, enfim, tantos e tantos outros que num movimento extraordinário de cidadania, coragem e vontade, criaram as condições para o nascimento da Árvore.
A nossa Cooperativa tem por objeto a produção, divulgação e comercialização de obras artísticas e editoriais e a formação e informação dos sócios e do público em geral, na área das artes visuais, dos estudos de arte e em outras áreas da cultura, da criação e do saber.
Cresceu com uma atividade cultural plural e diversa, conferências, palestras, exposições em Portugal e no estrangeiro, simpósios, oficinas e cursos livres, concursos, prémios, livros, obra gráfica e edições de múltiplos, produção e instalação de obras de arte.
É neste contexto e proposta que a Árvore inicia o seu já longo percurso de quase 63 anos, demonstrando sempre uma enorme capacidade de resistência, passando por períodos de grandes dificuldades, mas também por momentos de extraordinária dinâmica e afirmação. Circunstâncias muito comuns a instituições dedicadas às Artes e à Cultura.
A afirmação e presença da Cooperativa na cidade do Porto e mesmo noutros grandes centros é um valor inquestionado e inquestionável. Há, no entanto, uma faceta, nem sempre valorizada, mas que, pela sua importância, tanto para a Árvore, como agente esclarecido e determinado, na divulgação da arte e da cultura, como para o país, na sua diversidade geográfica e cultural. Na verdade, a Cooperativa, desde os seus primeiros anos de atividade, manteve sempre uma particular e regular atenção às regiões mais afastadas dos grandes centros, o tão falado e esquecido Interior, contribuindo assim, desde as primeiras décadas, anos sessenta e setenta, para uma real descentralização, cultural e artística, por regiões, votadas ao esquecimento e sem meios ou capacidades para, por si só, poderem criar dinâmicas e proporcionar às suas populações este tipo de iniciativas.
Por esta razão, podemos afirmar que, particularmente em parcerias com autarquias, mas também com outras entidades públicas ou privadas, Portugal, em especial o país do Interior, foi percorrido de lés a lés, nessa procura e luta pela promoção e divulgação da arte, da cultura e valores de cidadania e de liberdade.