A Árvore Generosa é o título de um livro recentemente publicado em Portugal. Escrito em 1964 por Shel Silverstein, entretanto já falecido, só agora foi traduzido para português. É um livro para crianças para ser lido, também (sobretudo?), por adultos. Com o título original The Giving Tree, trata disso mesmo, da história de uma árvore que, por amor a um menino, lhe vai dando tudo, contentando-se com o fazer feliz.
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Embora se pudesse sublinhar o aparente egoísmo do menino, sempre pedindo mais alguma coisa, quer o autor quer o tradutor português decidiram, na minha perspectiva bem, sublinhar a generosidade, o acto de dar, sem pedir nada em troca, satisfazendo-se com o tentar fazer o outro feliz. É um livro cativante, na sua ingenuidade, que relembra a importância do amor, da capacidade de (se) dar na sociedade contemporânea.
Lembrei-me desse livro quando, na semana passada, tive a fortuna de estar entre aqueles que puderam ouvir o ex-presidente americano Bill Clinton. Uma só Humanidade foi o tema que se propôs tratar. Num mundo marcado pela desigualdade, pela insegurança e pela não sustentabilidade do actual modelo de desenvolvimento, deixou uma mensagem de optimismo. Numa abordagem muito americana, realçou o papel que a filantropia pode ter na resolução daqueles problemas. Perante uma plateia em que abundavam empresários e gestores de algumas das maiores empresas nacionais, foi dizendo do caminho que a lógica do devolver à sociedade o que se ganhou ("give back to society") tem vindo a fazer nos Estados Unidos. Como dizia Elisa Ferreira, no JN de domingo, o que importa não é o que se ganha, é o que faz com o que se ganhou. Clinton falou da multiplicação de fundações e do seu envolvimento em causas sociais, do combate à pobreza ao auxílio aos desalojados, da promoção da educação ao combate às doenças contagiosas, nos vários cantos do mundo. Ao ver nisso um sinal de esperança, deixou um desafio um pouco mais do que implícito a muitos dos que o escutavam. Desafio que repetiu no fim da conferência ao falar sobre o encontro que promove anualmente. Com menos glamour que Davos, disse. Mas em que quem participa tem de estar já envolvido ou comprometer-se a fazer alguma coisa para melhorar o mundo. Caso contrário, não volta a ser convidado.
No que diz respeito às desigualdades sociais, os EUA não são propriamente um exemplo para ninguém. É verdade que há um problema de diferenças de cultura e que, por lá, se convive melhor com as diferenças. Mas, enquanto por cá, problemas sociais são sinónimo de políticas públicas, por lá são os privados que, também, surgem na linha da frente. Por cá, a árvore generosa, que se presume inesgotável, chama-se Estado. Por lá são os ricos que se empenham em devolver à sociedade o que ela lhes deu. É esta vitalidade multifacetada do sector privado que nos falta. Vai uma aposta que serão os americanos os primeiros a dar a volta à situação económica complicada em que nos encontramos?
P.S. Recebi o aviso: a facturação da água passa a mensal. A meu bem, evidentemente! Que os senhores deputados não fazem a coisa por menos. Pergunto: alguém se lembrou de fazer as contas ao papel gasto e às consequências ambientais de tal política?