Quantas vezes já não ouvimos ou lemos isto: a TAP quer devolver "o mais rapidamente possível" o dinheiro que recebeu do Estado, cerca de dois mil milhões de um plano de reestruturação totalizando 3200 milhões. Quantas vezes ouvimos e lemos isso? E isto?: claro que há "muitos desafios", inclusive o aumento do preço do combustível.
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A garantia de incerteza certa foi dada pela presidente da TAP no Parlamento. Que também respondeu à suposta estratégia da empresa para o aeroporto do Porto. Disse Christine Ourmières-Widener que a companhia aumentaria a oferta de rotas se as soluções fossem "rentáveis", passando de caminho, indiretamente, um atestado de incompetência às inúmeras transportadoras privadas que operam no Norte, que com certeza não visam o lucro e o fazem por apego ao país e ao território.
Esse é justamente o ponto. Se a TAP fosse privada, e a sua dívida de responsabilidade fiduciária do acionista privado, este artigo não se escreveria. Mas a realidade não é essa.
Por opção política, o acionista maioritário é o Estado português, a dívida monstruosa da empresa é da responsabilidade do Estado português, o financiamento que evitou a falência foi feito pelo Estado português. Em bom português, o Governo manda na empresa e os impostos dos portugueses, de hoje e do futuro, pagam-na.
A narrativa da nacionalização assentou no facto de a empresa ser a maior força exportadora nacional e por isso representar um ativo estratégico.
Há, no entanto, um dado que nos deve fazer pelo menos refletir. No verão de 2021, segundo dados da ANAC, a TAP transportou 47% do total de passageiros do aeroporto de Lisboa. No Porto, segundo o mesmo critério, transportou apenas 11%. Perante estes números, não deixa de ser curioso que, já este ano, a companhia tenha anunciado o corte de mais sete rotas a operar a partir do Sá Carneiro.
Agora que os portugueses sabem quem manda e quem paga a estratégica transportadora aérea nacional, talvez não fosse má ideia questionar para que serve então a TAP. Ou quem serve. O que parece absolutamente certo é que um euro pago por um contribuinte de Lisboa tem o mesmo valor que um euro pago por um contribuinte em Lagos, no Porto ou em Braga. E que todos querem saber para onde vai o dinheiro.
Se um ativo considerado estratégico não serve para promover o desenvolvimento comum do nosso país, contribuindo para impulsionar o crescimento harmonioso dos territórios e populações, então porque é que o pagamos?
*Diretor-Geral Editorial