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Após duas guerras mundiais, a criação das Nações Unidas (NU), em outubro de 1945, representou a vontade dos países em encontrar soluções que garantissem a paz e a segurança. Podemos ver o copo meio cheio ou meio vazio e considerar que a organização que junta 193 países tem falhado nos objetivos da paz, ou entender que importa manter todas as possibilidades de diálogo. Em 2015, após dois anos de consultas públicas e muitos debates, as NU aprovaram uma nova agenda para o desenvolvimento visando a erradicação da pobreza, a prosperidade e o combate às alterações climáticas, apontando assim para a necessidade de respostas articuladas. Os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável representam um desafio para mudar o Mundo em que todos estamos implicados. Combater a pobreza continua a ser o eixo central desta agenda, mas a forma de o alcançar passa por todos os objetivos e é uma responsabilidade conjunta. Nunca como agora os países foram chamados a colaborar para alcançar metas exigentes, mas decisivas para o seu futuro como humanidade. No ano em que a organização comemorou 70 anos, os chefes de estado e de governo aprovaram compromissos assentes no respeito universal dos direitos humanos e da dignidade humana, do Estado de direito, da justiça, da igualdade e da não discriminação, do respeito pela raça, etnia e diversidade cultural.
Esta semana, a Administração Trump anunciou a retirada do Conselho dos Direitos Humanos das NU, sendo aplaudidos por Israel. Há mais de um ano que esta possibilidade era anunciada, em linha com o abandono da UNESCO, a saída do Acordo de Paris e a diminuição dos financiamentos para a organização.
Nas últimas semanas, os EUA foram notícia pela forma como aplicaram a lei da imigração separando os filhos dos pais, num exercício de crueldade que julgávamos irrepetível. A Carta das NU foi assinada em São Francisco e a Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada em 1948 teve o impulso de uma mulher americana, Eleanor Roosevelt.
Nestes dias, países europeus rejeitaram navios de resgate de imigrantes que andaram à deriva com mulheres grávidas e muitas crianças a bordo.
Durante algumas décadas, acreditámos que as democracias salvavam da barbárie, mas como explicou George Steiner, e de uma outra forma Anna Arendht, há um inferno que vai avançando passo a passo. A banalidade do mal vai-se instalando e pouco reagimos. Fazemos zapping ao horror.
* PROFESSORA UNIVERSITÁRIA