À pergunta de Joe Biden - Quando, em nome de Deus, vamos enfrentar o lóbi das armas? - devíamos juntar uma outra questão. Quando, em nome de todos, vamos deixar de ter massacres transmitidos em direto ou anúncios de carnificinas nas redes sociais?
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Um já era muito. Mas continuam a ser bastantes os casos de horrores que passam pelos feeds das redes sem que o famoso algoritmo, essa entidade sem rosto e sem fronteiras éticas e legais, os detete e os anule.
Quatro dias antes do ataque à escola do Texas, Salvador Ramos publicou fotografias de espingardas automáticas no Instagram. Identificou uma rapariga que conhecia apenas das redes sociais e perguntou-lhe se ia republicar as fotos das armas? Quatro dias antes, repita-se.
Payton Gendron também teve tempo para matar 10 pessoas a tiro num supermercado em Buffalo, Nova Iorque, e transmitir a chacina no Twitch, serviço de streaming de vídeo. Antes, postou um manifesto de 180 páginas nas redes sociais onde se declarou fascista.
E recuemos a 2019, quando Brenton Tarrant esteve 17 minutos em direto no Facebook a transmitir o massacre de 51 pessoas em duas mesquitas da Nova Zelândia.
No início do século, a Internet já era regulada. Com o passar dos anos, e com o crescimento das contas falsas, do extremismo, do negacionismo e do discurso de ódio, a tese jurídica de que as redes sociais não têm de responder pelo que é publicado foi-se diluindo.
Agora estamos à espera que a Lei de Serviços Digitais seja aprovada pelo Parlamento e Conselho Europeu e que haja regulamentação séria para os gigantes da Internet. Que os responsabilize pelos conteúdos que difundem. O Congresso norte-americano também espera por novos regulamentos que obriguem as redes sociais a serem responsabilizadas pelos danos que causam.
Até lá, as redes sociais vão continuar impunes e a não assumir as responsabilidades pelo mau uso das suas ferramentas. E enriquecem, mesmo que isso seja sinónimo de transmitir a morte em direto.
Diretor-adjunto
