Se já não nos importamos que os filtros dos milionários tecnológicos de Silicon Valley sejam mais eficazes a censurar mamilos no Facebook do que imagens de corpos desmembrados após acidentes rodoviários, não podemos encolher os ombros relativamente à propagação de fotografias pavorosas, como as dos jovens que morreram a 300 quilómetros à hora na 2.ª Circular de Lisboa. Infelizmente, desta vez, não foram só miúdos inconscientes a partilhar o terror.
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Sem fazer juízos de valor, parece óbvio que nenhuma mãe, pai, irmão, tio ou amigo suportaria ver difundida, partilhada e comentada nas redes sociais a imagem de um familiar morto estendido no asfalto, vítima de um qualquer acidente rodoviário.
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Essas terríveis fotografias, que infelizmente nos chegam aos telemóveis vindas de diferentes e variadas origens, são apenas fruto de exibicionismo online. Capturadas por quem vive mais em função dos gostos conseguidos nos seus posts do que em ajudar as vítimas e os seus familiares. Demonstram desprezo, desrespeito e falta de consideração. São desumanas. Estão ao mesmo nível que as fotografias da decapitação de reféns divulgadas pelo Estado Islâmico. É crime. Por isso, o argumento de que a publicação das imagens pode servir como pedagogia de choque, não serve. Nem há nenhum interesse público na publicação de conteúdos deste tipo. Ao contrário de outros países europeus, em Portugal não há por parte das autoridades rodoviárias grande sensibilidade para este voyeurismo mórbido, que não é menos grave do que transformar um automóvel e circular fora da lei. A banalização da morte na Internet não pode ser ignorada. Tem de ser debatida e combatida.
Podemos continuar a viver conectados na rede, mas não podemos viver desconectados do Mundo e de humanidade. Nem nós, nem quem governa, nem quem fiscaliza.
Diretor-adjunto