Nenhum português terá aberto a boca de espanto quando, há poucos dias, na Grande Conferência do JN "Por Portugal", Adriano Moreira exclamou que "o país atingiu uma fadiga tributária que não é aceitável".
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O decano dos nossos políticos, insuspeito de ser de esquerda, referia-se aos excessos de carga fiscal, em particular a propósito dos impostos que incidem sobre os rendimentos do trabalho, acima da média europeia.
Nada define melhor uma sociedade e um ideário político do que os impostos, essa arte de depenar o ganso fazendo-o gritar o menos possível e obter o maior número de penas.
O Nobel Gunnar Myrdal ensinou que uma característica dos países pobres é a sua débil estrutura tributária e a sua incapacidade para arrecadar impostos. Assim é, porque a escassez de recursos limita a ação dos governos para construir boas infraestruturas, o que por sua vez limita a atividade económica, a criação de emprego e, por consequência, os impede de arrecadar impostos.
Ao contrário, os países mais desenvolvidos têm níveis de pressão fiscal mais altos. E neste grupo identificamos dois modelos bem diferenciados. O modelo anglo-saxónico (Reagan e Thatcher) com baixa pressão fiscal e piores serviços públicos. E o modelo europeu, com maior pressão fiscal e com mais e melhores serviços públicos, em particular o que convencionámos chamar de Estado social.
Por cá, a quatro meses das próximas eleições, os principais partidos só agora entram na fase de nos propor o seu cardápio fiscal.
Harold Hotelling, um teórico da estatística aplicada à economia, desenvolveu um interessante teorema segundo o qual ("o ponto ótimo") o melhor lugar da praia para instalar a barraquinha dos gelados é colocá-la ao centro, para melhor atrair os clientes, venham eles da esquerda ou da direita.
Ora, o teorema enunciado para resolver um problema trivial é também aplicável à política, sobretudo em período eleitoral. Uns e outros hão de prometer-nos baixar gradualmente os impostos sobre a classe média, concentrando esforços em arrecadar mais receitas com a criação de emprego e no combate à fraude e à evasão fiscais.
Acontece que, conhecida a terapia dos últimos anos - nos impostos, na educação, na saúde -, os portugueses parecem comungar apenas de uma certeza: a diferença entre a morte e os impostos é que a morte não piora cada vez que se elege um novo governo. E esse é um problema que nem mesmo o teorema de Hotelling pode resolver.