1 - Diz-se que o Governo está a ganhar a batalha do défice. Claro que não poderia ser de outra forma, uma vez que uns pagam agora mais impostos e outros foram penalizados nos salários. Uma receita pouco popular, mas de resultados imediatos: aumento de receita e abaixamento da despesa. Deveria resultar em quê, senão em diminuição do défice? Se não há surpresa nesta vitória de Pirro, somem-se outros números conhecidos por estes dias. Apesar do optimismo deslocado e desbocado do secretário de Estado da pasta, o desemprego volta a bater recordes. São agora 619 mil portugueses oficialmente desempregados. Ou seja, quase dois milhões de portugueses [os desempregados e as suas famílias] directamente afectados por esta tragédia. E afectados quer dizer sem dinheiro para pagar a prestação da casa, os medicamentos, a roupa e até a comida. O Governo pode estar a ganhar a batalha do défice, mas, para miséria de muitos portugueses, está a perder a batalha do desemprego.
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2. Está lançada a primeira pedra da barragem do Tua. José Sócrates promete-nos que a barragem significará uma diminuição da nossa dependência energética do exterior e a redução das emissões de dióxido de carbono. Um discurso que mais parece gato escondido com rabo de fora. A principal razão para fazer uma barragem, a do Tua ou outra qualquer, é económica: se der lucro, faz-se, se não der, não se faz. E não consta, bem pelo contrário, que a EDP [que é quem vai construir e explorar a barragem] se dedique à beneficência ambiental. Precisamos de diminuir as nossas importações de energia? Precisamos. É importante reduzir as emissões de gases poluentes? Com certeza que é. Mas essas verdades simples não deveriam justificar a destruição da assombrosa paisagem do vale do Tua. Se valesse tudo para conseguir energia sem ter de a importar já se teria feito uma central nuclear.
3. O Porto vai hoje ser palco de um debate, mais um, sobre regionalização. Vai discutir-se a possibilidade de, no processo de revisão constitucional, acabar com a necessidade de submeter a referendo o novo modelo administrativo. Não se percebe, porque cria no cidadão a ideia de que uns quantos vão tentar, na secretaria, o que não conseguiram através do voto popular. Percebe-se, porque a Região Norte a quem interessa é aos nortenhos, não aos lisboetas [o raciocínio é o mesmo para o Centro, o Alentejo ou o Algarve]. Por que não, então, um meio-termo? Perguntar a cada um dos cidadãos de cada uma das regiões se quer ou não avançar com o processo de regionalização na região que lhe diz respeito. Correríamos o risco de ter apenas algumas regiões e o modelo centralista no resto do país? Já é assim agora - Madeira e Açores - e não se vislumbra inconveniente.