O "Messi das telecomunicações" está a passar um mau bocado. Depois de ter subido aos céus por mérito próprio e de, por isso mesmo, ter sido incensado por todos os governantes portugueses, Zeinal Bava está agora às portas do inferno.
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É pouco provável que chegue a entrar no purgatório, porque, como ninguém passa de bestial a besta num instantinho, o gestor há de voltar pela porta grande, depois de ter saído pela porta dos fundos, queimado por uma transação que desfez aquela que era mostrada como a empresa mais dinâmica, mais inovadora e mais moderna de Portugal: a PT.
Zeinal Bava não é um anjinho, longe disso. Não está, seguramente, isento de culpas na famosa aplicação de 900 milhões de euros que a PT fez a Rioforte, quando já se sabia que o BES estava num estado comatoso. Ficou-lhe mal dizer que não sabia de nada, atirando o peso todo para as costas de Henrique Granadeiro. Não percebeu quão penalizado ficou aos olhos dos brasileiros da Oi, quando optou por se esconder atrás dos destroços. Não percebeu que tinha o destino traçado - e permitiu que os brasileiros o empurrassem, sem dó nem piedade, pela porta das traseiras.
Sendo tudo isto verdade, é seguramente apressado decretar a morte de Zeinal Bava. E é seguramente pouco assisado andar em público a pisar o "morto". Ora, o ministro da Economia dedicou-se a essa tão estranha quanto arrebatadora arte de matar o morto. Em declarações ao "Expresso", Pires de Lima disse de Zeinal Bava e Henrique Granadeiro, sem nunca citar os seus nomes (coisa pouco recomendável do ponto de vista da ética), o que Maomé nunca se atreveu a dizer do toucinho.
Gestores "com estatuto de inimputabilidade especialistas na compra de prémios internacionais"; "apresentados como gurus da gestão" sem nunca terem dado provas; "um exemplo chocante de destruição de valor"; empresa "capturada por interesses particulares de um acionista" e "submissão a interferências políticas". Resumindo: um caos, um tremendo caos. Mas um caos apenas agora descoberto.
Nunca é bonito ver os fortes a baterem nos fracos. Pires de Lima podia, com a experiência política que tem, ter falado deste assunto com a delicadeza que ele reclama. Bastava-lhe, por exemplo, ter citado o fantástico Ambrose Bierce e dito que Bava e Granadeiro fazem parte, na opinião do ministro, da categoria do "conhecidos": aqueles que conhecemos suficientemente bem para pedir emprestado, mas não suficientemente para emprestar. Estava tudo dito. Mas não: Pires de Lima quis pisar e repisar a campa do morto, tentando com isso exorcizar todos os pecados cometidos e, ao mesmo tempo, avisar os restantes gestores de topo. Só não percebeu que, ao fazê-lo, deu mais uma pancada na PT, ou no que dela resta. A empresa vale ainda menos depois das declarações do ministro.