A situação económica, social e política face à conclusão do programa da troika e ao acordo de parceria com a União Europeia para os fundos estruturais a distribuir até 2020 vale bem uma reunião do Conselho de Estado. Esses fundos terão de ser criteriosamente aplicados, sob pena da economia real não conseguir reanimar o suficiente para criar emprego e destapar cuidadosamente a panela de pressão social, e a natureza deste objetivo não se compadece com a mercearia da caça ao voto que estará de portas abertas ao longo do próximo ano.
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Sem dúvida que ao presidente da República sobram todas as razões inerentes à necessidade de um protocolo de bons procedimentos para que não sejam malbaratados os dinheiros de que vamos dispor e que, desse jeito, tente fazer com que na reunião da próxima quinta-feira os conselheiros de Estado coloquem todo o seu peso senatorial sobre aqueles que poderão tornar exequível esse desígnio nacional: os líderes partidários.
Porém, em política, como de resto na vida, de pouco serve ter razão antes de tempo. Ora é isso mesmo que poderá acontecer a Cavaco Silva quando der por terminada a próxima reunião do Conselho de Estado, mesmo que entre os seus conselheiros se desenhe uma maioria tendente a acompanhá-lo na vinculação do PS a um acordo superior ao da soma da atual maioria parlamentar. De resto, essas posições têm sido tornadas públicas: de Eanes a Sampaio passando por Balsemão, de Jardim a Marcelo passando por Bagão Félix, não falta quem pense em consonância com a preocupação presidencial com a mercearia dos votos das campanhas que se avizinham para legislativas, presidenciais e regionais madeirenses.
Apesar de todo o seu peso institucional, não é expectável que o Conselho de Estado consiga influenciar um jogo político sobre o qual ainda nem sequer sabemos ao certo quais são os jogadores que entrarão em campo. E esta é a questão que parece tornar o esforço do presidente da República inconsequente. A menos que...
A menos que Cavaco antecipe o mais possível as eleições legislativas para precipitar clarificações sem as quais nenhum acordo terá pés para andar: designadamente, saber se o candidato do PS a primeiro-ministro será Seguro ou Costa e se Portas continua, ou não, à frente do CDS, e em aliança com o PSD ou sem ela.
O que sabemos, isso sim, é que se o presidente da República só dissolver a Assembleia da República no limite máximo legal, ou seja, seis meses antes do mandato terminar em março de 2016, poderá não ter tempo, nem espaço, nem condições para patrocinar este tipo de acordo em caso de as eleições legislativas não oferecerem a nenhum partido uma maioria absoluta para governar. É, assim, evidente que pensar num grande acordo significa dar uma boa data a eleições antecipadas.