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Há 80 anos, no final da II Guerra Mundial, foram lançadas duas bombas nucleares, uma sobre Hiroxima, em 6 de agosto de 1945, outra sobre Nagasáqui, em 9 de agosto. As primeiras e, até agora, as últimas bombas atómicas lançadas sobre alvos reais, no caso duas cidades. A destruição provocada, no imediato pela explosão e no médio prazo por efeito da radioatividade gerada, causou apreensão generalizada e esteve na origem de várias iniciativas para limitar a proliferação destas armas de destruição em massa.
Durante décadas, o Mundo viveu o que foi chamado equilíbrio do terror, com momentos em que pareceu iminente o regresso à utilização em escala ampliada daquelas armas, como aconteceu na crise dos mísseis de Cuba. Nos anos 70 e 80 do século passado, em plena guerra fria, manifestaram-se, sobretudo na Europa, mas também no Japão, movimentos pacifistas antinucleares fortes, reveladores da consciência que havia, na altura, do risco de destruição da Humanidade. Por razões históricas várias, Portugal viveu à margem daquela inquietude.
Com o desaparecimento da União Soviética e o fim da guerra fria, criou-se a ilusão de que a ameaça nuclear era coisa do passado, apesar do prosseguimento da proliferação nuclear, com os testes nucleares do Paquistão, em 1998, e da Coreia do Norte, em 2006. Há, atualmente, cinco potências nucleares institucionalmente reconhecidas como tal (EUA, Rússia, China, Grã-Bretanha e França) e quatro constituídas à margem do Tratado de Não Proliferação Nuclear (Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte). Ou seja, o risco nuclear aumentou num Mundo mais multipolar do que no tempo da guerra fria.
A estupidez de um conflito em que todos perderiam, como seria uma guerra nuclear, terá anestesiado a consciência do risco em que vivemos. Um risco aparentemente pouco provável, mas que, a concretizar-se, teria proporções catastróficas inimagináveis.
Hoje, num Mundo em que existem tendências fortes de redução da regulação multilateral das relações entre estados nacionais, em que assistimos à ascensão de populismos que promovem um assalto à racionalidade que substituem pelo poder mobilizador das emoções, em particular das emoções nacionalistas, em que se mobiliza com facilidade a ameaça nuclear nas disputas internacionais, nos discursos e nos atos, por Putin e por Trump, o risco aumentou muito. Na realidade, nunca foi, provavelmente, tão elevado como agora. Porém, ao contrário dos anos 80, não tem contrapartidas no plano dos movimentos sociais. Precisamos de nos voltar a preocupar, seriamente, com a ameaça nuclear.