<p>O Conselho de Opinião (CO) da RTP, uma comissão de doutos sábios que tem como finalidade acompanhar o cumprimento do serviço público a que o operador se encontra obrigado, e que dá parecer vinculativo sobre as escolhas dos provedores do Ouvinte e do Telespectador, vetou por maioria o nome de Felisbela Lopes, que havia sido proposta pelo Conselho de Administração (CA) da RTP para substituir Paquete de Oliveira.</p>
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Felisbela Lopes, a pró-reitora da Universidade do Minho, é professora universitária com doutoramento na área de televisão e com vasta obra publicada sobre os "media". É bem conhecida do público através das suas intervenções em programas de televisão, em que abordou temas relacionados com a sua especialidade e como comentadora do programa "Bom Dia Portugal".
Jaime Fernandes, locutor de rádio e director de novos projectos da RTP, que integra o CO, revelou que a candidata prestou esclarecimentos durante "mais de hora e meia" e "esteve muito bem" mas não terá convencido a maioria dos conselheiros, que terão sustentado, durante o debate interno que precedeu a votação, que não apresentava o currículo necessário e a maturidade suficiente para "enfrentar a direcção do canal". De acordo com a lei, o CO deverá agora justificar por que razão o currículo da candidata não corresponde aos requisitos previstos na Lei da Televisão em termos de mérito profissional, credibilidade e integridade pessoal.
O que se vai sabendo, entretanto, é que o "núcleo duro" do CO terá tentado promover um candidato alternativo, que por acaso é conselheiro desse órgão, e terá invocado para o efeito que o provedor deveria ser co-nomeado, o que não está previsto na lei e equivale a uma usurpação das competências do CA. Como ouvi de um membro do CO, Felisbela Lopes é um "dano colateral" nesta questiúncula, uma mera "vítima de um procedimento" pouco diplomático por parte do CA.
Na verdade, foi por um acto fracassado de compadrio relativamente a um dos seus membros que a maioria exerceu o direito de veto, não hesitando em enxovalhar a candidata do CA através de argumentos puramente subjectivos, que agora terá de substanciar. A tudo isto não será alheio o facto de Felisbela Lopes ser de Braga, não fazer parte do circuito do croquete e não ter padrinhos políticos no "inner circle" da nossa excelsa capital. Ou seja, como já se percebeu, a candidata minhota não tem falta de currículo ou de competência para exercer o cargo de mediação em representação dos espectadores, já que é em nome deles que o cargo existe: o que lhe falta é esse "pedigree", que muitos dos membros do Conselho de Opinião ostentam, e que seguramente não faltava ao seu putativo candidato.
P.S.: Tudo isto parece irrelevante nesta terça-feira 27 de Abril, em que os transportes estão em greve e as bolsas se afundam, pressagiando o naufrágio financeiro de Portugal. A culpa não é, apenas, do Governo. É de todos nós, e também de todos os partidos políticos que, de uma forma ou de outra, se limitam a assobiar para o lado. Um dia destes, o FMI aterrará discretamente na Portela. O ministro das Finanças anunciará, então, com ar contristado, as medidas de urgência que já adivinhamos, e que os especialistas estrangeiros vão adiantando mas que, em Portugal, ainda ninguém ousa sequer soletrar. Nesse dia, e com o regresso do escudo no horizonte, o Governo abdicará do investimento público e os salários de quem hoje fez greve por um impossível aumento serão reduzidos em 10 ou 20%.