Corpo do artigo
A greve na Autoeuropa faz mal à economia e transmite o pior sinal possível ao investimento externo. Para além das questões partidárias e a par das greves dos enfermeiros ou dos transportes, estamos perante a consequência da falta de autoridade do Estado e da estratégia de um governo que se baseia em dar tudo a todos. Se não pararmos a tempo, o destino está traçado. E não será bonito.
Os alemães não são dados a figuras de estilo e, com pragmatismo, já avisaram: ou a Autoeuropa avança para o aumento da produção, como previsto, ou o cenário de encerramento e deslocalização da fábrica é uma hipótese real. Trata-se simplesmente de duplicar o número de carros fabricados e contratar mais funcionários, passando a laborar também aos sábados. Os trabalhadores receberão um acréscimo de remuneração de 16% e algumas regalias mais. Mas os trabalhadores não querem, a CGTP não deixa e o PCP aproveita para mostrar quem manda na "cintura vermelha" da margem sul.
É certo que estamos em período de negociação do Orçamento do Estado para o próximo ano e que é preciso pressionar o Governo. É certo que estamos a falar de um partido que defende o regime lunático e ditatorial da Coreia do Norte. Mas o que está em causa é o futuro de uma empresa que vale 1% do PIB e 4% das exportações. Não será preciso fazer um desenho para se perceber que do desfecho do caso Autoeuropa dependerá o futuro do investimento estrangeiro em Portugal.
O ponto é que, embora se trate de uma empresa privada, os sindicatos têm a expectativa de que seja o Governo, por via fiscal ou outra, a intervir, resolvendo a questão a contento dos trabalhadores. Os grandes defensores da "classe operária" que são os líderes sindicais pretendem, na verdade, a estatização da economia. Se não resultar, o Estado social tratará de acudir aos que, por cisma, venham a perder o emprego. Princípios e raciocínios que se aplicam demasiadas vezes aos setores da educação, da saúde e dos transportes.
A falta de autoridade do Estado é um problema crónico da nossa democracia, sendo transversal aos partidos de poder. Sucede que, na atual conjuntura política, essa fragilidade é agravada pela facilidade com que são despachadas as exigências da maioria que suporta o Governo. Mais professores nos quadros? Claro que sim. Reposição das progressões automáticas na Função Pública? Vamos a isso. De conquista em conquista, o Estado volta a não ter fim e os cofres deixaram novamente de ter fundo. Veremos quanto tempo isto dura. Desde logo, o que vier a suceder na Autoeuropa pode marcar o país para as próximas décadas. Estamos a brincar com o fogo.
De conquista em conquista, o Estado volta a não ter fim e os cofres deixaram novamente de ter fundo. Veremos quanto tempo isto dura.
EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO