A má notícia é que a Justiça (no caso custa-me escrever a palavra com maiúscula) portuguesa volta às bocas do mundo pelas piores razões. Desta vez é um acórdão da Relação de Évora do afrontoso género "coutada do macho ibérico" inaugurado em tempos pelo Supremo.
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Conta a Lusa que os desembargadores anularam a pena de prisão a que fora condenado um homem que, desde 2004, "desferia murros e pontapés" e injuriava a mulher e que, em 2008, a agrediu com uma cadeira no peito, provocando-lhe uma contusão torácica, hematomas na região frontal e na mama e escoriações nos lábios e cotovelo. Desembargaram os senhores juízes que a agressão "não foi suficientemente intensa" para constituir crime de violência doméstica e que, quanto aos murros e pontapés, não se lhes conhecendo o número, nem a "forma e intensidade" ou "o local do corpo da ofendida atingido", deveria o arguido ir em paz com uma módica multa.
A boa notícia é que, mal o caso chegou à net e redes sociais, se multiplicaram os comentários de indignação - alguns em termos que, não custa a crer, os senhores juízes considerariam com "intensidade" bastante para se sentirem ofendidos na sua honra e consideração (prisão até 3 anos) - o que parece demonstrar que, não só cada vez mais mulheres não se conformam com as agressões dos companheiros, como também cada vez mais portugueses não aceitam sentenças que vêem como ofensivas de valores sociais fundamentais.