Em cada Verão os incêndios nas nossas florestas surgem como comparsas do nosso habitat. Com tal constância que chegam a criar hábitos das coisas inseparáveis desta estação. Completam a tríade da Natureza mais referida nestes dias: sol, mar, fogo.
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É tal a pertinência que, ainda antes desta onda devoradora dos preciosos arvoredos, me lembro do modo inusitado com que reagi à abertura de um noticiário de rádio: "Hoje, não há notícia de incêndios nas florestas".
Provavelmente, estranhavam estes critérios editoriais o retardo do evento-fogo, grande alimentador dos noticiários nesta quadra. O Verão, este ano, chegou tarde. Mas quando chegou, veio em força e com elevado grau de canícula, que quase não nos permite separar o calor do sol e o calor do fogo.
Crime e incêndios florestais costumam ser os temas fortes de todo o Verão. Mas, este ano, a quantidade e a intensidade de alguns, como este, em S. Pedro do Sul, com enormes danos materiais e, sobretudo, com o contar das mortes e feridos de estóicos bombeiros, estes fogos voltam a ser vistos como uma autêntica calamidade.
É inadmissível que dois critérios continuem a ser os factores primordiais para a análise desta calamidade: as causas naturais dos fogos na floresta, aqui, como na Rússia, na Austrália ou nos EUA e as políticas governamentais na determinação de meios para o combate a esta tragédia. O primeiro, é da órbita científica e merece estudo e aplicação concreta. O segundo, esfuma-se, todos os anos, mais ao "combate" político - partidário da "arma de arremesso" em que é transformado.
Julgo poder elencar a partir das razões que tenho ouvido e visto nos média da parte de técnicos e peritos estes pontos: não há dúvida que os meios (carros, aviões, etc.) foram reforçados; continua a faltar prevenção (foram reduzidos os vigilantes por corte de verbas) e o mato selvagem nas serras é o pasto "petrolífero" para estes fogos; faltam preparação técnica e coordenação estratégica a muitos daqueles "voluntaristas" que dão tudo, até a vida, para combater este inimigo. Por sua vez, os pirómanos ou inconscientes malfeitores andam em roda livre a atear, aqui ou ali, por mania ou vil divertimento, as chamas.
No fundo, falta trabalho de casa e menos improvisação. De facto, o fogo é como o amor: arde sem se ver. Mas é urgente ver este fogo sem "amor" para este país e suas populações.