A tese pode parecer um tanto radical, mas os canadianos John Ibbitson e Darrell Bricker assumem, na obra que intitulam "Empty Planet: The shock of global population decline", que o maior desafio das próximas décadas é o declínio da humanidade. E isso terá sérias consequências nos planos geopolítico, económico e migratório.
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Os números dão que pensar: daqui até 2050 a fecundidade deverá ser inferior a 2,1 crianças por mulher, a percentagem das pessoas que têm 65 ou mais anos subirá de 10 para 23 por cento, aquelas com mais de 70 anos vão duplicar e a idade média da população mundial passará de 31 anos para 36 anos. Mas a tendência não será a mesma a norte (que se confrontará com as taxas de natalidade em queda livre) e a sul (onde a população continuará ainda em crescimento). A África subsariana, por exemplo, duplicará a sua população, mas esse crescimento irá colidir com baixas perspetivas de crescimento económico donde resultarão situações de desemprego e de delinquência dos mais novos, presas fáceis para um terrorismo que ameaça não parar.
O desafio para ambos os lados do planeta estará nas correntes migratórias, mas isso, como já se percebeu há algum tempo, provoca sérias tensões. Não será simples, se calhar mesmo possível, levantar certos bloqueios em chão europeu e isso significará que os dramas do Mediterrâneo não estarão perto do fim, nem tão-pouco que se encontra aqui a chave para reequilibrar o planeta.
Também a China vai ver a população a diminuir, o que constitui um problema colossal para um país que sempre beneficiou da mão de obra de jovens a baixo custo. Para atenuar isso, as autoridades já autorizaram os casais a ter três filhos em vez dos dois antes estipulados, mas essa medida só terá (algum) impacto nas regiões rurais.
É claro que podemos ver nesta situação global alguns pontos positivos: uma população envelhecida é menos bélica, havendo até quem fale numa paz geriátrica que acalma muitos de nós; reunindo menos pessoas, a parte mais industrializada do planeta irá poluir menos e isso facilita a luta contra as alterações climáticas. No entanto, há uma questão de fundo por resolver: as pessoas. Que faltarão no hemisfério norte e estarão em excesso a sul. É preciso, pois, políticas mais integradoras de fluxos migratórios e, dentro de portas, outro modo de enquadrar a natalidade. Sem dispor de condições, ninguém quer ter filhos. A começar pelas mulheres que, nos países mais avançados, continuam a fazer a quadratura do círculo nas suas vidas profissional e familiar.
Professora associada com agregação da UMinho