Madonna foi apanhada pelo idadismo e pela misoginia. Esteve nos Grammys. Elogiou os rebeldes de todo o Mundo. Disse-lhes que não se importassem. Se vos colocam o selo de provocantes ou extravagantes, é porque estão a fazer algo bem, argumentou.
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Mas Madonna não é influencer. Nem tão bela. Nem já falada por atacar o patriarcado. Daí que o foco de atenção sobre a estrela da pop tenha iluminado apenas o seu rosto, alvo de procedimentos estéticos. Um rosto de 64 anos. O dela.
A violência com que foi atacada nas redes sociais nem tem classificação. Nem surpreende. E essa é mesmo a surpresa. A desobrigação coletiva. Estamos a habituar-nos aos insultos, à discriminação, à xenofobia, à desumanização.
Cristina Ferreira foi ao Parlamento. É a primeira subscritora da petição "Contra o ódio e a agressão gratuita na Internet", criada após o lançamento do seu livro intitulado "Pra cima de puta". O que lhe costumam chamar.
A apresentadora pediu aos deputados uma entidade reguladora das redes sociais. Todos nós somos figuras públicas na Internet. Cristina Ferreira falou por todos. Ou por quase todos.
Há uma certa classe política que ainda tem dúvidas sobre a necessidade de colocar regras mais apertadas neste grande fórum digital que são as redes. A mesma que atacou Santos Silva quando o presidente da Assembleia da República alertou que as plataformas não podem enfraquecer as instituições. Não tendo percebido que uma regulação democrática é a melhor garantia para termos uma Internet livre. Já não estamos nos anos 90.
Na Europa trabalha-se o tema. Com leis. Para o ano, a dos Serviços Digitais deve entrar em vigor.
O Brasil já tem uma Central de Denúncias de Crimes Cibernéticos. Em 2022, recebeu 74 mil denúncias de crimes envolvendo discurso de ódio. Sabem-se as razões.
Não são precisas mais leis para que as polícias tenham equipas especializadas nesta matéria. Nem para que a Justiça responda de forma célere às solicitações desta índole ou que as investigações vejam a luz do dia.
A inteligência artificial está a chegar com força. Mas, por enquanto, usemos a inteligência real.
*Diretor-adjunto