Uma carta ficará para a história, pelo impacto que teve nas recentes eleições no Reino Unido. Chegado ao gabinete, o secretário do Tesouro David Laws deu conta da missiva deixada em jeito de legado por Liam Byrne, antecessor socialista do "Labour" no cargo. Dizia: "Caro secretário, lamento informá-lo que já não há dinheiro".
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Comentando, David Laws ironizou com típico humor britânico ter-se tratado de "um esclarecimento honesto, mas menos útil do que estava à espera". Acontece que os eleitores não esqueceram. Contrariando sondagens, os Conservadores venceram com maioria absoluta. E no rescaldo, o líder socialista Edward Miliband demitiu-se.
Portugal também teve a sua carta. Foi escrita em abril de 2011 por interposição da Comunicação Social, pelo ministro Teixeira dos Santos, que lamentava só haver dinheiro para pagar contas até maio.
No balanço, os socialistas portugueses levaram de vencida os congéneres britânicos por 30 dias de crédito. Infelizmente legaram a troika. E contas feitas, saíram mais caros.
António Costa disse há dias que "os portugueses só festejarão a saída da troika quando este Governo sair". Convence-se que terão melhores razões para festejar junto do PS, que governava no exato momento em que a troika entrou. Engana-se e não tem memória.
Em março de 2011, Sócrates ameaçava não estar "disponível para governar com o FMI". Semanas depois não só governava, como se candidatava a novo mandato.
Em dezembro de 2011, Pedro Nuno Santos gritava "estou marimbando-me que nos chamem irresponsáveis. Temos uma bomba atómica que podemos usar na cara de alemães e franceses. Ou se põem finos ou não pagamos". Era vice-presidente do grupo parlamentar do PS.
Em maio de 2012, Mário Soares defendia que o PS tinha de romper com a troika.
E sobre o Orçamento do Estado de 2014, João Galamba - escolhido por António Costa para coautor do novo cenário macroeconómico do PS - dizia ter a certeza absoluta da inevitabilidade da recessão.
Na Oposição, o PS fez por dificultar a tarefa do ciclo de ajustamento. Mas por muito que não convenha a António Costa, o PSD e CDS concluíram-no com sucesso e a troika saiu do país a 17 de maio de 2014.
Valha-nos a clareza na alternativa que o secretário-geral do PS deixou, assumindo em janeiro que "a vitória do Syriza é um sinal de mudança, que dá força para seguir a mesma linha".
Para quem invoca festejos, a bancarrota da Grécia deveria dizer qualquer coisa.
DEPUTADO EUROPEU