No sábado passado, em Lamego, celebrou-se o Douro. A Gala de Abertura da Capital Europeia do Vinho, estatuto que o território ostentará durante este ano, foi um excelente espetáculo, com transmissão televisiva, animado por cantores de referência da música portuguesa e uma excelente orquestra.
Corpo do artigo
A força das palavras de Torga, modeladas pela voz e pelas expressões de Pedro Lamares, tocaram profundamente a assistência. A partir do Douro (vinho), falou-se do Douro (rio), a coluna vertebral do Douro (território), sobre o qual se refletiu.
Está, pois, a Comunidade Intermunicipal do Douro de parabéns por este evento, criteriosamente usado para homenagear personalidades que, ao longo dos últimos quarenta anos, foram responsáveis por decisões transformadoras deste território: o curso de Enologia na UTAD, a navegabilidade do rio (Douro), o Museu do Douro, a classificação da UNESCO de património mundial e o Parque Arqueológico do Vale do Côa, bem como o respetivo Museu. Entre as intervenções de agradecimento, presenciais ou gravadas, Miguel Cadilhe brindou os presentes com uma nota mista de emoção, espontaneidade e racionalismo, tendo sido nesta personalidade que a intervenção sentida da ministra Ana Abrunhosa singularizou o tributo a todos cuja visão e decisões ousadas estruturam o Douro de hoje.
Ali (no Douro território), tudo é exacerbado. A natureza é um excesso e os desafios sempre foram hercúleos. Os próximos, a demografia e as alterações climáticas, centralizarão a agenda futura. Estes tempos de mudança exigem novas práticas, por exemplo, a generalização da irrigação das vinhas e medidas integradas de captação, retenção e utilização de água.
Nestas quatro décadas, a palavra Douro ganhou espaço como referência mundial de excelência na produção de vinho (já o era no porto, mas passou a sê-lo, também, no de denominação de origem controlada) e de turismo. Importa conseguir valorizar essa excelência, para garantir condições socioeconómicas atrativas a quem queira trabalhar e viver nesse território.
Há mudanças estruturais que tornam possível acreditar numa grande transformação. O conhecimento técnico-científico enquadra, cada vez mais, as opções do tecido económico-produtivo. Os atores desse tecido estão, cada vez mais, baseados no Douro. O tempo não é mais do empirismo ou das quintas onde se ia pelas colheitas. O Túnel do Marão simboliza a ligação do Douro ao Mundo, mas, mais importante do que isso, os decisores do Douro são gente do Mundo.
*Presidente da CCDR-N