Soube-se de mais um caso de trabalho infantil, numa empresa do vale do Sousa, envolvendo dois jovens, um de 14 e outro de 15 anos, que não tinham completado a escolaridade obrigatória mínima.
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No ano que passou, terão sido identificados um total de 16 casos. Suficientemente poucos para que o fenómeno não tenha já expressão para ser considerado um problema. Pelo menos estatisticamente. Poucos ou muitos, serão sempre demasiados.
Não sabemos das circunstâncias concretas que terão levado a esta situação. Sabemos, em qualquer caso, que a mesma revela, pelo menos, duas coisas: em primeiro lugar, a pouca importância que as famílias portuguesas, em especial das regiões mais atrasadas, persistem, paradoxalmente, em conceder à educação; e, por outro lado, que continua a haver patrões que não passam de empregadores. Os dois factores, em conjunto, ajudam a compreender o buraco negro que as regiões visitadas na semana passada por Cavaco Silva há muito constituem.
A concorrência da China tem sido um álibi para esconder responsabilidades próprias. A aproximação dos Jogos Olímpicos tem permitido conhecer melhor aquele país. Todas as reportagens sublinham a obsessão das famílias chinesas com a educação dos seus filhos, os sacrifícios que fazem para os colocar a estudar em instituições reputadas, nacionais ou internacionais. A justificação é simples: não querem para os seus filhos o destino que eles tiveram. Vêem na educação uma forma de fugir a essa armadilha. As estatísticas confirmam-no: a China é um dos países em que o investimento na educação mais paga. Nada que nós não conheçamos bem: num estudo sobre a educação que, recentemente, a OCDE apresentou, Portugal continua a figurar entre os países em que aquela taxa de retorno é mais elevada. Tal como, estudo após estudo, se mostra que o desemprego é tanto mais baixo quanto mais elevadas são as habilitações e que a probabilidade de um desempregado obter novo emprego aumenta com as qualificações. Ainda assim, os níveis de abandono escolar mantêm-se elevados e são precisas "novas oportunidades" para suprir lacunas que a irresponsabilidade conjunta de famílias e empregadores alimenta e que a centralização da decisão na política educativa facilita.
Iludidos pelo imediatismo, muitos agentes económicos destas regiões caíram num ciclo vicioso de que não conseguem sair. As excepções são apenas isso, com a dificuldade acrescida de tentar fazer diferente numa envolvente nada propícia à inovação ou à qualidade.
Entretanto, chegam notícias da China dando conta da adopção de leis mais exigentes em termos de direitos e garantias dos trabalhadores, de sustentabilidade ambiental e de responsabilidade social. Centenas de empresas fecharam. A estrutura empresarial que sobrevive é mais forte, mais moderna, mais capaz de competir.
Nós, por cá, continuamos a lamentar-nos, a não tirar lições, a pedir ao Governo mais uma intervenção específica que permita que tudo mude, para tudo ficar na mesma. Por este caminho, mais ano menos ano, voltaremos a ser competitivos. Por baixo. Teremos os salários que as qualificações e capacidades de gestão permitirão. Que nos tornarão competitivos face aos países asiáticos. Fazendo aquilo que eles fazem hoje. A China que se cuide! Portugal contra-ataca!
albertocastro.jn@gmail.com