Obama mantém um prudente quase silêncio face a Gaza. Esta brevidade contrasta com a abundância de ideias, expressas todas as semanas, sobre a crise económica e social.
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Os cínicos vêem uma razão simples para o contraste. Para além do facto de "só poder haver um presidente de cada vez", a resolução da Palestina não depende (só) dos EUA, enquanto que a da bancarrota tem de ser feita pelos americanos.
Mas a discrição não impede a preparação. Em tempo de vésperas, Barack Obama considerou duas nomeações cruciais, no domínio do conflito. Trata-se dos timoneiros da comunidade de informações e segurança (CIS) dos EUA.
Os sondados são Leon Panetta e Dennis Blair. O primeiro é um político veterano, quase permanente, ex-republicano, democrata "centrista", católico "liberal" de origem italiana, professor numa universidade jesuíta, que será chefe da CIA. O outro é um almirante "cerebral", ex-comandante da frota do Pacífico, acusado de ter "pactuado" com os militares indonésios, a seguir ao massacre de Santa Cruz, em Díli, convidado para director nacional de informações (DNI).
Deveríamos talvez dizer Blair e Panetta, e não Panetta e Blair. É que, desde a lei de reforma dos serviços secretos, de 2004 (a IRTPA), o director da CIA deixou de ser responsável pelas "informações centrais" passando a depender de um coordenador federal, o DNI.
Por outras palavras, Blair será hierarquicamente superior a Panetta.
Mas, como se sabe da história e do presente, o grosso das informações está na CIA (e nas outras agências independentes, como o FBI, a NSA, o DHS, etc.), e não na burocracia do DNI.
Por outro lado, a CIA é sempre um símbolo, uma bandeira, um mito, uma "batata quente". A sua direcção é olhada, por historiadores e analistas, como um sinal dos tempos, ou da inclinação política da Casa Branca.
A Agência já teve de tudo a comandá-la: quatro almirantes, dois generais, cinco espiões de carreira, um empresário, um químico, dois advogados e vários "políticos". As inclinações dos patrões também variaram. O veterano McLaughlin é um ilusionista profissional, o almirante Hillenkoetter estava obcecado com os OVNI, o professor do MIT, Deutch, guardava ficheiros secretos num computador desprotegido, enquanto que o general Vandenberg se impacientava pela próxima partida de golfe.
Também houve "reformadores" e "activistas" (como Turner, Casey, Tenet), críticos do "factor humano" e da "obsessão pela tecnologia", e até homens como uma missão exacta. James Schlesinger terá declarado, na sua primeira arenga ao pessoal: "estou aqui para impedir que f… o presidente Nixon!".
Existiram directores hiper-influentes (Dulles, Casey, Tenet) e irrelevantes (Woolsey), "tapa-buracos" e nomeados provisórios (Bush, Goss).
Um dos grandes nomes do pós-Guerra Fria, o advogado William Webster, afirmou ter aprendido duas coisas na CIA. Primeiro, que "a ordem protege a liberdade, mas a liberdade tem de proteger a ordem". Depois, que "a segurança é sempre considerada excessiva, até ao momento em que é tida como insuficiente".
Estes dilemas vão ser evidentes, para o "conservador profissional" Blair e para o "reformador amador" Panetta.
Os dois parecem ser uma combinação inteligente, evitando guerras de facções. Mas depois de ter dado uma no cravo e outra na ferradura, com tais nomeados, Obama tem de chegar ao próximo patamar: como mudar a realidade, antes que esta o mude.