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As cidades transformam-se ao longo dos séculos e com elas os costumes e as práticas do quotidiano. Um exemplo deriva da história da introdução de sistemas de canalizações nas casas, que foi ocorrendo de forma gradual ao longo dos séculos. Desde a época romana, em que os sistemas de aquedutos e termas já utilizavam canais e tubulações para distribuir água, até ao século XIX, com a introdução da industrialização e urbanização, dá-se a verdadeira revolução nas canalizações domésticas em Portugal. Mas só a partir da segunda metade do século XX é que as casas começaram a ter água canalizada. Até aí, as mulheres iam lavar a roupa ao rio ou aos tanques públicos, com água fria a correr 24 horas.
Normalmente, numa linha de água, junto a esses lugares públicos havia ainda os estendais, onde os lençóis brancos e a restante roupa eram colocados a corar, emitindo um brilho único e aromático que esvoaçava dos pedaços de sabão partidos das barras. O sol secava as roupas perfumadas deixadas pelas mulheres, que faziam disto a sua profissão. Eram momentos de socialização. Ali, contavam as suas mágoas e alegrias da vida dura, dos maridos, dos filhos e dos amantes, e sabiam também as novas. Guardavam segredos em comunidade e tornavam-se mais fortes que a pedra dura dos lavadouros. Talvez esses momentos em comunidade tenham reforçado o papel forte que a mulher sempre ocupou na família. Que as nossas cidades procurem esses espaços públicos preciosos, alguns já perdidos entre becos, ruas e ruelas, e lhes deem vida. Afinal, são nosso património.