Entrámos em 2021 confiantes de que este seria o ano da ciência.
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A vacinação arrancou em pleno período natalício e há um ano acreditávamos que a normalidade, essa espécie de quimera tão ansiada, estaria do lado de lá da toma de duas doses. Um ano depois, a incerteza continua a dominar a agenda. A elevada transmissibilidade da ómicron colocou os casos em números que julgávamos não voltar a repetir, e o receio de pressão sobre os serviços de saúde mergulhou-nos de novo em medidas restritivas.
É natural que o desânimo nos assalte coletivamente. Levamos quase dois anos de pandemia, com alguns setores de atividade devastados pelas limitações de contactos sociais. A ciência continua, no entanto, a ser a única salvação possível. É nela que continuamos a confiar para o desenvolvimento de vacinas eficazes a bloquear a transmissão, ou para a criação de novos tratamentos capazes de reduzir ainda mais a mortalidade.
À ciência cabe guiar-nos no controlo da pandemia. Mas há vida além da covid. Da economia à educação, da ação social ao ambiente, gerir uma comunidade exige decisões em muitos outros domínios. Até na saúde se avolumam os sinais de emergência em patologias não covid, como a oncologia e a cardiologia. Para não falar da saúde mental, em que se multiplicam gritos de alerta e evidências de que as respostas não chegam para os problemas.
A entrada em 2022 leva-nos a escolhas decisivas. E se uma campanha eleitoral deve ser sempre esclarecedora, transparente nas propostas e decisiva na apresentação do rumo a tomar, esta é ainda mais importante pelo momento crítico que atravessamos. O medo volta a assaltar-nos, e é perigoso agir com base no medo.
Quem governa em tempo de prolongada pandemia pode soçobrar ao desgaste e à tentação de ouvir apenas os epidemiologistas. Mas tomar decisões políticas é muito diferente de tomar decisões sanitárias. Obriga a colocar a pandemia em interligação com todos os problemas sociais, económicos, culturais. A ciência há de guiar-nos contra a covid. Mas a política terá de levantar o olhar e ver mais longe. Juntando todas as peças do puzzle e não apenas uma. É uma tarefa difícil, claro. Mas deixem à ciência o que é sua missão, sem se demitirem das responsabilidades de ir muito além dela.
Diretora