Corpo do artigo
Acho que todos nós já entendemos que se aproxima uma campanha eleitoral curiosa de onde, apesar da resiliência do nosso sistema político poderá resultar um parlamento, digamos, no mínimo, com uma geometria renovada. Assim foi em Itália, na Grécia, o mesmo se vaticina para a França e mesmo na circunspecta Albion, as eleições estiveram incertas até à última hora.
A crise, os novos sistemas comunicacionais, o cansaço dos eleitores, a emergência de novas forças políticas são fatores a ter em conta. De partidos como o Livre ou o Movimento Agir, de personalidades como Marinho Pinto, ou na frente presidencial de candidatos como Henrique Neto ou Paulo Morais, é de esperar a novidade, a polémica.
Estranho mesmo é a campanha eleitoral, não oficial, mas já bem presente no nosso quotidiano político, arrancar com polémicas no interior da coligação PSD/CDS-PP. Afinal, quem joga na continuidade política e de políticas tem que fazer acreditar nas vantagens da estabilidade. E foi só na semana passada que a os partidos aprovaram a coligação, mesmo sem nome e com um "preferencialmente" sobre o apoio a um candidato presidencial pelo meio.
Por isso a confusão do episódio dos SMS, que no remete para o período mais atribulado deste Governo, ou o "lapsus linguae" do primeiro-ministro ao chamar "líder do principal partido da oposição" ao companheiro de coligação, soam tão estranhos, especialmente num momento em que o real líder da oposição marca o debate com as suas propostas.
E se não fossem só lapsos? De facto, é um bocado difícil de engolir que Passos Coelho tenha deixado publicar a sua hagiografia sem prever que evocar o momento em que Paulo Portas esteve à beira de deixar o Governo, da forma que o livro o faz, causaria mossa. Há muitos que defendem que o CDS-PP tem sido vítima de "bulling" pelo parceiro de coligação num percurso marcado pela nomeação de Maria Luis Albuquerque mas também da TSU, e dos desacertos na comunicação política.
E se esta fosse uma atitude pensada? Imaginemos que Paulo Portas se sentia irrevogavelmente forçado a abandonar a coligação. O que restaria ao CDS-PP como bandeira de campanha? Em contrapartida, o PSD surgiria como a única proposta de estabilidade e poderia ambicionar conquistar algum terreno eleitoral à sua direita. Pode não daria para ganhar, mas é um trunfo interessante.
Esta é, sem dúvida uma teoria rebuscada, mas ajuda a perceber até que ponto o CDS-PP está "amarrado" ao PSD e sempre é uma explicação possível se não quisermos ceder a acreditar na pura irracionalidade política.