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O Chega representa pouco mais de um por cento dos portugueses que votaram nas últimas eleições legislativas, mas quem veja a atenção que lhe dedicam os canais de televisão poderá ser tentado a pensar que já houve eleições depois de 2019 e que o partido de extrema-direita confirmou nas urnas as intenções de voto que lhe dão algumas sondagens. Como se não chegasse, ainda temos o Bloco de Esquerda a fazer do Chega o seu inimigo de estimação, dando-lhe em permanência a atenção de que ele precisa para continuar a crescer nas intenções de voto. Melhor do que isso, só os seus apoiantes com discursos racistas em manifestações antirracistas, mais os líderes partidários de Direita (Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos) a dar razão às oportunistas manifestações de André Ventura, corroborando a ideia de que racismo não é coisa dos portugueses.
Não havendo razão nenhuma para nos preocuparmos, na opinião destes ilustres pensadores, poderíamos meter na gaveta do esquecimento os estudos que revelam evidência contrária, não fosse dar-se o caso de um homem, que se afirma muito português, mandar para debaixo da terra outro homem que, na opinião do assassino, por ser negro, não era nem um bocadinho português. Por causa deste homicídio, o Chega veio de novo para a rua, como se o morto fosse culpado e o assassino fosse uma vítima do politicamente correto.
A comunicação social tem de se autorregular, deixando de publicitar acriticamente tudo o que diz e faz um partido e um político que estão a tentar destruir um dos princípios democráticos, o princípio da igualdade.
Artigo 13:
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
*Jornalista