A coragem de assumir que não se está OK
O título da edição da "Time" é sugestivo: "It"s OK to not be OK". Em fundo, numa foto a preto e branco, evidencia-se o rosto da tenista japonesa Naomi Osaka que representará o Japão nos próximos jogos olímpicos e que recentemente recusou falar com os jornalistas no torneio Roland Garros, sendo, por isso, multada em 12 mil euros e ameaçada de expulsão pela organização. Ela própria tomou a iniciativa de abandonar o torneio e agora explica as suas razões.
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Num texto escrito na primeira pessoa, Osaka serve-se de um meio de Comunicação Social de impacto internacional para passar uma mensagem simples: os atletas precisam de mecanismos de defesa para preservar a sua saúde mental quando defrontam torneios duros e, nesses contextos, uma conferência de imprensa pode mandá-los ao tapete, antes de irem à luta desportiva. Por altura do Roland Garros, Osaka estava mentalmente doente e garante ter necessitado de algum recato. Que lhe faltou. Na "Time", confessa agora que sentiu uma grande pressão para revelar os seus sintomas que suscitaram desconfiança quer no universo desportivo, quer entre os jornalistas que acompanhavam o evento. "É preciso proteger os atletas mais frágeis", diz, pedindo ainda aos média noticiosos que respeitem o seu direito à privacidade e lhe exprimam a empatia de que necessita.
Embora assumindo sentir-se "desconfortável em ser o rosto da saúde mental dos atletas", Osaka ressalta duas questões sensíveis: o cuidado a ter com o estado psíquico de quem leva o corpo a um estado de dureza extrema e a necessidade de ajustar a mediatização dos grandes eventos desportivos. Eis dois tópicos que nunca suscitaram grande debate, mas que têm um impacto colossal aos níveis individual e social.
Os dados para a discussão estão lançados: quem se ocupa de desportistas, sobretudo na alta competição, deve cuidar da mente com o mesmo afinco que cuida do corpo. Nesta luta, Osaka tem apoios de peso: Michelle Obama, Michael Phelps, Steph Curry, Novak Djokovic, Meghan Markle. Também o formato das conferências de imprensa deve ser repensado. O que são aqueles espaços, para além da exibição de certas marcas? No Europeu de Futebol, Cristiano Ronaldo disse tudo no gesto que teve para com uma bebida. Agora, Osaka assegura que esse modelo está obsoleto. É óbvio que um evento desportivo deve incorporar em si espaços de diálogo com os jornalistas, mas há que repensar tempos e espaços. Porque a dimensão das competições mudou e a comunicação faz-se com outros ritmos e através de diferentes canais.
Professora associada com agregação da Universidade do Minho