Vale a pena conhecer a história de Gary Matthews. Era artista e fotógrafo amador. A família retratava-o como um homem bom. Há cerca de três anos ficou muito preocupado com o conflito na Síria do ponto de vista humanitário. Era uma pessoa gentil. Tímido. Queria um Mundo melhor, segundo um amigo citado pelo jornal "The Guardian".
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Ficou doente uma semana antes de testar positivo no dia 12 de janeiro. No dia seguinte morreu. Sozinho no seu apartamento de Shrewsbury, Inglaterra. Tinha 46 anos. Gary Matthews era um negacionista. Não acreditava na covid-19 e não aceitava as medidas governamentais de combate à pandemia, incluindo o distanciamento social e o uso de máscara. A família pediu-lhe várias vezes que a usasse.
O britânico fazia parte de um grupo do Facebook de disseminação de informação falsa. Mesmo após a sua morte, os negacionistas continuaram a alimentar teorias da conspiração. "Foi assassinado". "Matou-se", porque "era um de nós".
Não pensei que iria voltar a escrever neste espaço sobre os negacionistas. Só que Gary pode ser um Manuel, um Mário, um João ou outro cidadão qualquer. Mas quando assistimos a ajuntamentos em Portugal de pessoas sem máscara, como o que se realizou junto ao restaurante Lapo, em Lisboa, a protestos violentos na Europa ou encontramos grupos no Facebook contra a "ditadura" da covid, percebe-se que a luta contra a pandemia não se resolverá apenas com medidas sanitárias.
É, aliás, significativo que a Google tenha lançado um fundo para apoiar projetos de combate à desinformação sobre as vacinas para a covid-19 no valor de 2,4 milhões de euros. Portanto, numa altura em que anda meio país a discutir se deve usar uma máscara social ou uma FFP2, enquanto se espera por uma posição oficial da DGS, que já tarda, assistimos a espetáculos tristes de ajuntamentos, fugas de restaurantes e posts inflamados. Depois, o resultado é este: a covid mata e a farsa também.