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Não há outra forma de o dizer: o que se está a passar na CP é um escândalo nacional, que se impõe denunciar. Com metade do ano cumprido, a constelação de sindicatos afetos ao transporte ferroviário já impediu ou condicionou a sua utilização em mais de metade dos dias, revelando um absoluto desprezo pelas populações. E, convém lembrar, que é para satisfazer as necessidades das pessoas que existe a CP. Não para ter os comboios sistematicamente parados.
A greve mais recente é particularmente irrazoável, porque não só é decretada em época de verão, como ameaça comprometer a mobilidade de milhares de participantes na JMJ. É esta a noção de serviço público que, seja no sindicato dos revisores, dos maquinistas ou de outro segmento profissional, prevalece por estes dias, sacrificando a reputação da empresa por ganhos de causa que, realisticamente, serão difíceis de obter no curto prazo.
Como já aqui referi, a CP está, lenta e desgraçadamente, a transformar-se numa nova TAP, com a mesma obstinação sindical, a mesma ingovernabilidade e as mesmas ineficiências. Recentemente, veio a público um relatório sobre o nível de pontualidade dos comboios em 16 países europeus e lá estava Portugal em último lugar da tabela, com 82%. A isso somam-se outros constrangimentos, como a supressão de viagens, a falta de conforto nas composições, a bilhética desatualizada ou as péssimas condições das estações. A má qualidade do serviço está a atirar os utilizadores para outras alternativas, como os autocarros, bem menos sustentáveis em termos ambientais. E, tudo isto, sem enfrentar o mercado concorrencial.
Em abono da verdade, as culpas não podem ser imputadas exclusivamente às administrações da CP. O Estado e os sucessivos governos somaram décadas de desinvestimento na ferrovia, degradando a infraestrutura e sacrificando dezenas de linhas, em benefício das autoestradas. Mas, nos últimos anos, e como herança da geringonça, os sindicatos tomaram conta da empresa e estão a proletarizá-la como nunca.
Só mesmo com concorrência aberta é que se vai resolver o problema. Até lá, a migração para o transporte ferroviário vai ser ótima para os discursos, mas rigorosamente impraticável para os cidadãos.