O primeiro-ministro defendeu ontem, durante uma visita aos concelhos de Cinfães e de Arouca, o progressivo afastamento do Estado da vida das pessoas, ou das decisões por elas tomadas. Pedro Passos Coelho entende que, "quanto mais o Estado intervém a partir de certo nível, mais recursos tem de ir buscar às pessoas". É uma verdade provada e incontornável.
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Passos acha que, para contornar o problema, o Estado deve ser "um pouco mais parcimonioso". A fadiga tributária a que estamos expostos sustenta a tese do primeiro-ministro. "A nossa carga fiscal é muito elevada. Quanto mais reclamarmos da intervenção pública, dado que o Estado somos todos nós, mais estamos a reclamar dos impostos, mais estamos a reclamar do sufoco fiscal em que vivemos. Não temos muita margem para isso".
A leitura de Passos Coelho é correta: só peca no grau de parcimónia. O Estado não deve ser "um pouco mais parcimonioso"; o Estado tem de ser muito mais parcimonioso, sob pena de sufocar, pelas piores razões, os contribuintes, em primeiro lugar, e a si próprio, logo a seguir. Sim, porque se "o Estado somos todos nós", seremos todos nós as vítimas dessa absurdamente exagerada dependência do que é público, do que é "estatal".
Sucede que foi o próprio Estado o principal incentivador deste estado de umbilical ligação: as criaturas por ele geradas tomaram conta do criador.
Olhemos para o exemplo das verbas europeias, agora que estamos à beira de receber mais uns camiões de dinheiro provenientes de Bruxelas. Sem dúvida decisivos para o crescimento económico e para a satisfação de algumas das mais básicas necessidades das povoações, do litoral ao interior, os fundos comunitários criaram (melhor: o Estado permitiu que se criassem) uma tropa fandanga que enriqueceu à custa deles e que, por arrasto, fez nascer uma série de empresas e empresários que deles dependem em absoluto.
Muita da prosperidade filha dos fundos comunitários tem, claro, pés de barro. De tal modo que, hoje, há instituições totalmente viciadas no ópio das verbas europeias, como há entidades cuja única função é capturar, as mais das vezes por meios travessos, esses fundos, para sustentar a larga clientela que desenvolveu sintomas de absoluta dependência. Seria preciso um jornal inteiro para citar apenas casos que conhecemos às claras. Basta, talvez, tomar nota do que se passou na construção civil, para termos um bom espelho desta realidade.
Ora, tudo isto se passou nas barbas do Estado e com a conveniência dele. São as corporações e os ínvios privilégios que lhes cabem que, juntamente com a irresponsabilidade orçamental, placam, em primeira instância, a liberdade de decisão do comum mortal. Porque ninguém é livre quando tem os bolsos vazios. Ou em contínuo esvaziamento...
