Entre os portugueses menos entendidos nestas coisas das finanças do Estado está a criar uma certa estupefacção o facto de com a tremida aprovação do Orçamento não terem diminuído os juros da dívida pública que temos de pagar.
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Ora, os juros estão altíssimos, mas também não é menos elevado o número daqueles que engrossam a massa dos decepcionados. Donde, depois de saturada a "pregação" sobre este desgraçado país, a bancarrota à vista, o "feiticeiro" do FMI, "o pior governo desta II República", seria bom que fizéssemos as contas sobre os efeitos deste depressivo discurso e nos interrogássemos se vamos esperar, destroçados, pelos cangalheiros, ou se vamos tentar, mais uma vez, soerguermo-nos e como.
Obviamente que a manutenção dos juros altos terá a ver com algumas condições derivadas das próprias regras que Bruxelas dimanou sobre devedores e compradores dessas dívidas. Mas terá a ver também com os nossos comportamentos políticos e sociais. O modo como foi feita a discussão do OE e como foi aprovado não fez despertar grande confiança nos emprestadores.
Alguns peritos escandalizam-se quando, na tentativa de um discurso contra a corrente dominante, se vem falar da necessidade de sair das receitas habituais: diminuir despesa, aumentar receita (sobretudo com impostos), arrecadar riqueza para se poder distribuir. Os dois primeiros preceitos desta receita o povo entende. Entende porque os sofre na carteira e na pele. Quanto ao arrecadar riqueza, sente uma grande mentira, pois a que existe está mal distribuída.
Na elaboração destas variáveis como receita para combater a crise, é chocante o desprezo em que se tem a variável do comportamento social dos cidadãos. Não obstante toda a realidade da crise, como compreender que ainda são a Banca e as redes de distribuição os maiores negócios deste país?
Nestes últimos dias tem-se sentido, na sociedade portuguesa, a emergência de discursos e acções, por parte de alguns grupos e de alguns média, para inverter o discurso depressivo e suscitar ânimo e atitudes para galgar o precipício.
Não se trata de branquear a situação de desastre iminente em que o país se encontra. Mas é preciso e inadiável reinventar processos eficazes de cada um de nós, no seu lugar, ajudar a combater a crise, que é do Estado, mas é de cada um de nós. As medidas, só por si, constrangem. As atitudes fazem-nos actores vivos desse combate.