A crise dos diplomas universitários
Nos últimos tempos, vários estudos internacionais têm chamado a atenção para o facto de um diploma universitário deixar de assegurar uma carreira estável e bem remunerada. Por cá, o debate mantém-se longe do espaço público. No entanto, esta conjuntura vai avançando...
Olhemos para diferentes regiões do Mundo. Nos EUA, o desemprego entre diplomados com idades compreendidas entre os 22 e os 27 atingiu em março passado 5,8 por cento, acima da média nacional de quatro por cento. Na China apenas 30 por cento dos diplomados encontram emprego adequado e no Magrebe o desemprego entre jovens com Ensino Superior ultrapassa os 30 por cento. Estes dados são destacados esta semana na revista "L"Express", que cita vários estudos para explicar uma tendência preocupante.
Há quem invoque a chamada "inflação escolar", ou seja, a expansão massiva do Ensino Superior que terá gerado uma sobrequalificação sem correspondência nas oportunidades de trabalho. Talvez este argumento seja demasiado linear para dele reter o essencial da situação atual. Em declarações à revista francesa, Eric Charbonnier, analista da OCDE para a área da Educação, dá uma explicação mais matizada, lembrando que são sobretudo os licenciados em áreas da ciência e tecnologia que mantêm vantagem no mercado de trabalho.
Atendendo à evolução tecnológica, é fulcral convocar também a inteligência artificial para esta reflexão. Enquanto revoluções anteriores afetaram profissões manuais, a IA ameaça, acima de tudo, tarefas intelectuais, tornando vulneráveis empregos reservados a quem tem um diploma do Ensino Superior. Erik Brynjolfsson, que dirige o Laboratório de Economia Digital na Universidade de Stanford, e Carl Benedikt Frey, especialista em questões do trabalho na Universidade de Oxford, têm demonstrado, com as suas investigações, como os jovens qualificados podem ter o seu emprego periclitante em setores fortemente expostos ao desenvolvimento tecnológico.
Um grau do Ensino Superior, outrora símbolo de competência e prestígio, corre o risco de ser um fardo. No ensaio "Ne faites plus d"études", Laurent Alexandre e Olivier Babeau alertam para a obsolescência dos estudos universitários. Num mundo em vertiginosa transformação, o sucesso pode não estar num diploma em si, mas na aquisição de determinadas competências, como habilidades relacionais, criatividade e adaptabilidade. Autor da interessante obra "Nexus", Yuval Noah Harari já tinha lembrado a importância de equilibrar competências intelectuais, sociais e manuais para enfrentar os desafios que se anunciam. Aqui estão boas pistas para as universidades repensarem percursos formativos.

