Os meios de Comunicação Social estão em crise, principalmente aqueles que apresentam uma natureza noticiosa.
Corpo do artigo
As causas são conhecidas: o acesso à informação gratuita generalizou-se, a agenda jornalística empobreceu, os cidadãos tornaram-se indiferentes a conteúdos jornalísticos de qualidade. Esta semana, o presidente da República voltou ao assunto: "A crise da Comunicação Social começa a atingir a democracia". É verdade. E isso deveria impulsionar o poder político a agir.
Há um ano, o PR lembrou que os média noticiosos atravessavam "uma crise de emergência", interrogando-se até que ponto o Estado não tinha a obrigação de intervir. O debate apagou-se rapidamente, nada se fazendo, entretanto, com o argumento de que os tempos eleitorais não ajudavam a encontrar boas soluções. Por estes dias, Marcelo Rebelo de Sousa veio novamente falar da necessidade de outras políticas públicas para os média.
Numa crónica publicada neste jornal a 30 de novembro de 2018, escrevi isto: "As empresas jornalísticas precisam de benefícios fiscais mais alargados; os consumidores de informação (paga) deveriam ter nessa compra maiores compensações nos impostos e dever-se-ia pensar em fortes incentivos para quem financia os média. Por seu lado, as empresas e instituições públicas (sobretudo as escolas) deveriam fazer constar nos seus orçamentos verbas para a subscrição de conteúdos noticiosos (acesso a sites e assinatura de jornais impressos ou digitais). Também seria imprescindível pensar a literacia mediática para públicos diferenciados. E atender de forma particular aos média regionais, muitos dos quais estão hoje dependentes das vontades políticas do poder do local...".
Agora o presidente veio sublinhar a importância das assinaturas digitais e do apoio que o Estado pode dar a esse nível. É uma das múltiplas iniciativas a tomar, mas é urgente repensar de forma concertada todo o setor dos média e integrar nas medidas a implementar diferentes públicos. Hoje, conseguiu-se fazer valer a ideia da importância que a literacia para os média assume para os mais novos, fortes consumidores de redes sociais e públicos insensíveis a conteúdos jornalísticos. Neste contexto, convém não esquecer que essa indiferença em relação aos conteúdos jornalísticos resulta também de ambientes familiares onde há muito se deixou de ter na leitura e na discussão da atualidade uma prioridade do quotidiano.
Que me dizem de um país onde ao domingo se publicam apenas três jornais generalistas? Na resposta a esta pergunta, encontrar-se-ão pistas suficientes para erguer políticas mais eficazes.
*Prof. Associada com Agregação da UMinho