O Congresso do PSD ocorre no momento em que se fala de uma crise existencial na área política não socialista. Quando um partido está na oposição a crise é um estado existencial... Mas são novos os contornos ideológicos desta crise.
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Muitos insistem que os problemas do CDS e PSD resultam de se terem enredado numa ambiguidade ideológica, tentando conquistar o Centro, por receios de se assumirem de Direita. Na verdade, o facto de o PSD sempre se ter assumido como um partido que vai do centro-esquerda à Direita é reflexo da história do partido (que Sá Carneiro fundou com uma base ideológica social-democrata e uma base sociológica de apoio que ia das elites liberais aos meios rurais conservadores). É reflexo também da história política do país, onde a democracia nasceu em contraponto a uma ditadura de Direita. Em termos de simples identificação relativa no espectro político a questão ideológica é, aliás, fácil de responder: o PSD está à direita do PS e à esquerda do CDS... A verdade é que, quer porque a nossa tradição política é estranha às divisões ideológicas clássicas, quer porque Esquerda e Direita são cada vez menos reveladoras das principais diferenças políticas (muito mais assentes noutras linhas de fronteira política), dizer-se de Esquerda ou de Direita diz muito pouco aos portugueses sobre a alternativa política que se oferece.
Mas há uma tensão verdadeira que este debate exprime. De um lado, estão aqueles que entendem a polarização política como inevitável, ou mesmo desejável, na política dos dias de hoje. O que é necessário é purificar ideologicamente um partido para mais facilmente consolidar e mobilizar a sua área eleitoral. A rutura na tradição centrista do nosso sistema político, operada por António Costa em 2015, veio dar força aos defensores desta tese. A única forma de alternativa ao poder socialista passaria pela construção de uma área política claramente de Direita. Infelizmente, muitos concebem também esta alternativa como a oportunidade para promover um projeto cultural hegemónico a substituir à hegemonia tradicional da Esquerda, alimentando uma lógica tribal. Do outro lado, estão aqueles que acreditam que a política ainda se decide no Centro, num eleitorado moderado, vagante entre o PS e o PSD. Ultrapassar com sucesso esta tensão vai exigir duas coisas ao PSD. Investir mais na sua identidade política, sem abandonar o pluralismo desta, a sua marca histórica. Segundo, que seja capaz de oferecer uma alternativa política clara ao mesmo tempo que permanece aberto para os compromissos que a democracia exige e o país necessita. Mas não será uma tarefa fácil, numa política dominada à Esquerda pelo oportunismo e tentada, à Direita, pelo radicalismo.
Professor universitário