A Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP, com todo o respeito que me merecem os senhores deputados e a Assembleia da República, tem sido, desde fevereiro, um palco para lutas político-partidárias em torno de questões menores que descredibilizam as instituições e alimentam a ideia de que vivemos uma crise política gravíssima.
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Líderes da Oposição, mas também titulares de altos cargos políticos, comentadores políticos e órgão de comunicação levaram uma semana a bater na mesma tecla, a repetir os mesmos comentários, a passar as mesmas imagens, a alimentar a mesma ideia: estamos numa crise política gravíssima da qual, eventualmente, não será possível sair sem eleições antecipadas. O exemplo mais acabado da esterilidade do que os telejornais nos ofereceram estes dias foi, na terça-feira, ao final do dia, as vezes intermináveis em que vimos o primeiro-ministro a falar ao telemóvel virado para a parede e o seu chefe de gabinete a entrar num carro.
No debate público parece estarmos a perder a capacidade de olhar para os problemas que afetam a vida das pessoas, das empresas e das instituições, de pensar em soluções políticas alternativas, de avaliar a governação em função dos seus resultados. Discutem-se as pessoas e os incidentes, diz-se sobre elas o que se sabe e o que não se sabe, esgotam-se as críticas e os ataques personalizados, mas pouco ou nada se diz sobre as decisões políticas.
Foi uma semana a "encher os balões" da crise, tendo como ar a indignação. Muita indignação desatenta às notícias sobre a desigualdade no sistema educativo que afeta os alunos do Ensino Básico e Secundário na Área Metropolitana de Lisboa; desatenta às dificuldades económicas das famílias para enfrentar a inflação, que, mesmo estando agora a descer, teve já efeitos irreversíveis sobre o poder de compra das famílias; desatenta às notícias sobre a evolução positiva dos indicadores económicos e o fraco impacto dessa evolução nas remunerações; e desatenta, já agora, às condições em que se fará a reprivatização da TAP.
Esta história ainda não chegou ao fim. Enquanto houver Comissão Parlamentar de Inquérito haverá espaço para mais indignação, com assuntos que permitem voltar a encher os balões da crise e a alimentar os desejos de eleições antecipadas (que talvez acabemos por ter). Há sinais de descoordenação, de alguma falta de foco na governação, de dificuldades em fazer escolhas. Há muitos aspetos a melhorar, mas não creio que boas soluções alternativas possam vir de uma Oposição que, para todos os problemas, apresenta uma única solução: mude-se o ministro, façam-se eleições.
*Professora universitária