Quando os políticos no activo são ineficazes e deletérios em dar resposta eficaz aos problemas da nação, é natural vermos outros, que já tiveram idênticas responsabilidades, e cuja autoridade política é indisputável, erguerem-se e falarem.
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À direita, que é o meu lugar, apenas duas pessoas possuem essa autoridade: Aníbal Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho. Cavaco Silva já encerrou a sua vida política activa, mas continua a ser um dos nossos concidadãos mais bem informados. O terceiro "D", o do "Desenvolvimento", dos três da comunicação do exilado Medeiros Ferreira ao Congresso da Oposição Democrática de Aveiro - o MFA viria a apropriar-se deles sem nunca ter referido o direito originário de autor -, devemo-lo a Cavaco. Quanto a Passos Coelho, o país ainda tem muito a esperar do seu contributo natural no "terreno". Cavaco Silva falou para o país no sábado. Comemoravam-se os 30 anos do "Programa Especial de Realojamento", "o maior programa no domínio da habitação alguma vez levado à prática em Portugal", e "um exemplo de boa colaboração entre o poder central e o poder local para a resolução de uma grave problema social". E o antigo primeiro-ministro, e presidente da República, no contexto de um outro "programa" habitacional improvável que o Governo do PS anda para aí a vender às postas, resumiu o estado da arte. "Falhanço da política do Governo no domínio da habitação nos últimos sete anos, com custos sociais elevados para muitos milhares de famílias", "sem que agora apareça pelo menos um secretário de Estado a assumir a responsabilidade pelos erros cometidos". Por outro lado, "como o historial do Governo nos últimos sete anos não é positivo em matéria de cumprimento das promessas feitas, o novo programa de habitação sofre do problema de credibilidade próprio das políticas do actual executivo". O Governo deve afastar "preconceitos ideológicos" e a "absurda ideia de fazer do Estado um agente imobiliário activo". Porque "o Governo tem feito o possível para corroer a confiança dos investidores", alterando "a seu favor compromissos legais na base dos quais as pessoas, as empresas e os investidores tomaram determinadas decisões", isto enquanto "a máquina burocrática do Estado" nem sequer tem capacidade" para executar tão azougado "programa". Ou outros quaisquer, acrescentaria eu. Num livro dedicado a Alexandre Herculano, de 1980, o historiador Jorge Borges de Macedo escreveu que "a sociedade é movida pelas vontades constantes, determinadas e fortes". Foi assim com Cavaco, Passos e, até certo ponto, com Sócrates. Deixou de ser assim há sete anos.
Jurista