O nove, quatro, dois transformou-se não numa reivindicação dos professores mas numa tática de jogo político difícil de explicar.
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Faz lembrar o confuso desenho do treinador do F. C. Porto em 2016, Nuno Espírito Santo, numa conferência de Imprensa, após a vitória dos dragões sobre o Arouca, que foi alvo de piadas nas redes sociais e gerou memes na Internet. É certo que o antigo técnico dos dragões mostrou poucas aptidões para a ilustração, mas a mensagem que pretendeu passar, de marcador na mão e papel branco no cavalete, era simples: são mais importantes os valores do que as táticas.
É aqui que reside a questão. Nesta polémica com a contagem do tempo de serviço dos professores, é complicado descobrir princípios morais no meio de táticas desconexas. Tal como no esboço de Nuno Espírito Santo, é mais fácil encontrar a parte anedótica.
De resto, as perguntas que vão na cabeça da maioria dos portugueses nem são sobre se os professores vão ou não conseguir recuperar os anos perdidos. Na contagem dos votos, o que vai pesar é a carteira, especialmente a dos contribuintes que trabalham no setor privado, a dos empresários que tiveram de despedir funcionários, a dos comerciantes que fecharam estabelecimentos, a dos trabalhadores por conta própria, a dos emigrantes que tiveram de partir e a de todos os funcionários públicos que também sofreram congelamento de carreiras.
Estes (eleitores) não precisam de táticas quando forem às urnas. Os outros (os políticos que ameaçam, avançam e recuam) que não se queixem depois do aumento da abstenção e do crescimento dos extremistas. A fotografia já nem vai lá com filtros.
Esta suposta crise teria era um bom palco num circo, onde os mágicos deixam o público de queixo caído, não pela qualidade dos truques mas sim pela arte do entretenimento.
*DIRETOR-ADJUNTO