Aculpa do que se está a passar na Portugal Telecom (PT) - em que não se olha a meios para comprar ou travar a compra da Vivo pela Telefónica - não é nem dos espanhóis, nem de José Sócrates. Há mais de um ano que a Telefónica tenta uma fusão com a Telecom Italia. Face à oposição do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, os espanhóis viraram-se para a Vivo.
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Ironias à parte, serve isto para dizer que a intervenção estatal em negócios privados não é inédita. E Espanha não é, de todo, virgem nestas matérias. Dirão: mas Espanha não tem golden-share. Não, mas usa a teia jurídica para impor condições impensáveis a quem ouse cobiçar as suas empresas ou o seu mercado.
Foi o que aconteceu aos alemães da E.ON quanto investiram sobre a Endesa. Já para não dizer que se contam pelos dedos de uma mão os contratos ganhos por empresas portuguesas de construção civil e obras públicas naquele território.
Por isso, só nos resta rir quando ouvimos o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol falar do "novo período europeu", onde situações como a do veto do Governo português "não se vão poder repetir". Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço...
Sublinhe-se, no entanto, que o facto de Estados, por via de direitos preferenciais ou manigâncias jurídicas, fazerem tábua rasa do Tratado que instituiu a Comunidade Europeia, ao boicotarem a livre circulação de capitais, é absolutamente reprovável. E José Sócrates, a pretexto dos interesses estratégicos de Portugal - o que fará então o Governo quando um investidor estrangeiro (Belmiro de Azevedo já o tentou...) ousar lançar uma OPA sobre a PT? -, falhou em todos os níveis.
Primeiro, porque usou um mecanismo que Bruxelas já considerou ilegal, posição que deverá ser corroborada para a semana pelo Tribunal de Justiça Europeu. Depois, ao votar contra a vontade dos accionistas - 74% aprovaram a venda da Vivo -, passou-lhes um atestado de estupidez como já não se via há muito. Por fim, não soube gerir a arrogância das suas palavras: "O Governo não abdica de nenhum instrumento disponível para defender os interesses de Portugal. Se alguém não sabia disso, agora ficou a saber".
É certo que a Telefónica jogou sujo desde o início. Mas não cabe a um primeiro-ministro jogar esse jogo. Deixemos os mercados funcionar.