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Temos estado a acompanhar a mudança de titularidade da Direção Executiva do SNS (Serviço Nacional de Saúde), com as vicissitudes que sempre caracterizam estes bailados, desta feita ainda mais vincadas por ocorrerem no contexto de uma mudança de Governo e da cor do mesmo.
Nada de novo nesse ângulo, apenas referir que estamos todos, os que se interessam pela boa saúde da nossa Saúde e os outros, porque dela dependem, ansiosos que o processo estabilize e se retome a tão necessária ação.
O que já me parece novo e relevante, e quero assinalar com regozijo, é que o modelo e a ideia que esteve por detrás de criação da Direção Executiva não foi nem está a ser questionado, sem prejuízo dos acertos e ajustes que possa merecer.
O diagnóstico do nosso sistema nacional de saúde não é o melhor, e muita coisa vai ter de mudar se o queremos manter enquanto universal, geral e tendencialmente gratuito e com os níveis de desempenho a que nos habituou. Quanto mais cedo o fizermos, melhor.
Não tenho a certeza de que esta realidade seja percecionada pela maioria dos nossos concidadãos nem mesmo por muitos dos que têm direta ou indiretamente responsabilidades no assunto. Embalados pela música celestial da orquestra do Titanic, querem acreditar que as coisas se haverão de compor. Infelizmente, assim não será, a menos que se aja rapidamente e no sentido certo.
E aqui a prescrição é há muito conhecida: o SNS precisa de gestão, de muita e de grande qualidade e diferenciação e, em simultâneo, numa maratona em que todos têm de ser envolvidos, precisa de mais, muita mais, prevenção e reforço de atenção aos estilos e à qualidade de vida.
Esta é a receita que um pouco por toda a Europa, com os ajustes que decorrem das especificidades de cada geografia, tem vindo a ser adotada e que a escassez dos recursos financeiros disponíveis impõe. A parcela da riqueza gerada que podemos afetar a esta área cada vez tem menos por onde crescer.
Temos assim de deitar mão ao que de melhor está disponível em termos de ferramentas e metodologias de gestão e para isso, numa inequívoca orientação ao valor - para o doente e para o cidadão - munirmo-nos da tecnologia mais avançada, nomeadamente ao nível da digitalização e da utilização do potencial dos dados e da inteligência artificial. A Saúde, pela sua dimensão e importância na nossa qualidade de vida, deveria também aqui estar sempre na linha da frente, o que não acontece.
Para o efeito será necessária coragem para mudar e reformar, em muitas situações em rutura com hábitos e interesses instalados, tendo um rumo e objetivos muito claros. Se tudo ficar mais ou menos na mesma, as coisas não vão correr bem!
E aqui entra a Direção Executiva: com esta designação ou outra, com os estatutos e a missão da atual ou algo de semelhante, mas definitivamente como agente da mudança, urgente e necessária, apetrechada, como tem mesmo de estar, com as condições necessárias para o fazer.
Claro que a maldição que não deixa de nos atormentar, e tanto mal nos tem feito, pode atacar mais uma vez, lançando a seguinte questão para que tudo recomece do zero: pode, em vez da Direção Executiva, outro ou outros serem os agentes da mudança? Com as mãozinhas em posição de prece, suplico aos deuses que tenham piedade de nós!