A democracia (brasileira) não é para velhos
A imagem consegue ser muito deprimente. Avozinhos e avozinhas, carregados de haloperidol, atrovent e hemitartarato de rivastigmina, destroem furiosamente os símbolos da democracia. Enquanto isso, os seus filhos trabalham e os netos estudam e procuram emprego.
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O desenvolvimento desregulamentado de ferramentas de comunicação, aliado ao envelhecimento das pessoas e ao empobrecimento constante do jornalismo de qualidade - aquele quarto poder que sustenta e vigia a democracia de que já ninguém fala, lembram-se? - faz tremer os alicerces da sociedade.
Hordas de gente ociosa e, por isso, facilmente manipuláveis, são alvos perfeitos. Através da propagação de notícias falsas, elas transformam-se numa arma mortífera à mercê dos novos "Terroristas da informação" no seu ataque planeado às democracias representativas.
A pirâmide etária dos revoltosos da Praça dos Três Poderes indicia isso mesmo. Os atacantes são, na sua maioria, gente de meia-idade, nascida nas décadas de 50, 60 e 70, homens e mulheres aposentados precocemente, ociosos, com vontade de falar, mas sem ninguém que os escute.
Preferem acreditar em mentiras convenientes (negando se preciso for até as evidências dos sentidos) do que aceitar essa verdade cruel que o admirável mundo novo da tecnologia lhes mostra: que o futuro não tem lugar para eles.
Esses manifestantes de Brasília, como os do Capitólio, não são o alvo a abater, são o sintoma mais evidente de um ecossistema social à beira da falência. Qualquer sociedade onde os acionistas maioritários - donos das quotas, dos votos e dos direitos sociais - não têm uma palavra a dizer sobre o futuro é um barril de pólvora.
Será que a democracia não é para velhos?
Presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos