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Sinto-me numa autoestrada com toda a gente a andar em sentido contrário, ou na tropa com todos a marchar de perna trocada. A probabilidade de eu estar certo e todos os outros errados é praticamente nula. No entanto, verifico os meus argumentos e os argumentos dos outros e não me convenço. O escrutínio ao Governo não tem hora marcada, quase nunca é feito nos debates quinzenais.
É certo que a democracia também vive do espetáculo que se gera com debates acalorados e que mais debates é sempre melhor do que menos debates, mas as idas quinzenais do primeiro-ministro ao Parlamento têm servido, sobretudo, para a Comunicação Social se lambuzar com o populismo de políticos que sabem que é mais fácil aparecer nos telejornais com uma tirada disparatada que com um discurso eloquente.
Uma breve pesquisa sobre os relatos feitos na Imprensa a propósito dos debates quinzenais mostra que os debates foram considerados mais "animados" quanto mais adversários políticos houve "encostados às cordas" ou "levados ao tapete". É sempre preferível mantermo-nos fieis às nossas convicções, mesmo em contramão. Com debates quinzenais, ainda espero para ouvir o primeiro-ministro no Parlamento a explicar direitinho para que vão servir os primeiros 1200 milhões de impostos que vão enterrar na TAP. Sobre a importância dos debates quinzenais com o primeiro-ministro para escrutinar o Governo, estamos conversados.
Deixo para o fim a explicação mais contundente sobre a utilidade destes debates. André Coelho Lima, vice-presidente do PSD, no Twitter, desmonta bem a tese de que o fim dos debates quinzenais acaba com o escrutínio ao Governo: "José Sócrates veio a público defender os debates quinzenais. Compreende-se. Ele sabe, melhor do que ninguém, o quanto eles foram decisivos para a fiscalização da sua ação. Até aí era uma pouca- -vergonha."
P.S.: Mário Nogueira respondeu nas páginas do JN ao artigo que escrevi na semana passada e em que perguntava "E se o povo acusasse Mário Nogueira?", a propósito do líder da Fenprof ter ameaçado acusar criminalmente o Ministério da Educação, se morresse alguém no regresso às aulas. Nogueira faz um trocadilho com o meu título, perguntando "E se o Paulo Baldaia fosse sério?", mas nem uma linha escreve sobre a ameaça que fez ao ministro. Sobre seriedade estamos, portanto, conversados. A resposta deu-a Tiago Brandão Rodrigues no Porto Canal, acusando o eterno líder sindical de estar a fazer "ruído" e a causar "angústia" nas famílias.
*Jornalista