Não são apenas as questões fraturantes e a liderança bicéfala a darem um toque especial ao Bloco de Esquerda. Sedimentado numa amálgama ideológica aparentada a um molho de brócolos - atenção, não é gralha, está mesmo escrito brócolos e não caviar! - o Bloco de Esquerda tem um não sei quê especial. Se assim não fosse, a expressão popular do Bloco de Esquerda não justificaria tamanho impacto comunicacional, retratada em todos os meios - televisões, rádios, jornais - por uma certa intelectualidade urbana. Simpatias....
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Aprecie-se, pois, a irrequietude do Bloco de Esquerda e a urdidura sofisticada das suas estratégias de combate político - mesmo quando sai fragorosamente derrotado na defesa de princípios de transparência no mundo autárquico, apesar das suas próprias contradições. É verdade: até pode fingir que não, mas o Bloco de Esquerda é igual aos outros partidos sempre e quando resolve transplantar os seus dirigentes - o simpático João Semedo, por exemplo, foi há quatro anos um candidato batalhador em Vila Nova de Gaia e agora passou-se para Lisboa, tornando-se rapidamente especialista em Bairro Alto em vez de Arcozelo ou S. Félix da Marinha. Uma minudência, dirão.
Em boa verdade transversal a outras castas, igualmente responsáveis por terem optado pela judicialização do caso, a Lei de Limitação de Mandatos é apenas um dos capítulos do oportunismo do Bloco de Esquerda.
Há outros, obviamente silenciados pelas cliques opinativas fãs. Como por exemplo o da recente substituição na Assembleia da República da deputada Ana Drago.
Num apunhalamento aos cidadãos eleitores igualzinho ao de outros figurões (não é assim, João de Deus Pinheiro? Não é assim, Fernando Nobre? E por aí fora...), o que fez o Politburo do Bloco? Convenceu uns a abdicar de serem os substitutos, porque em lugares preferentes da lista, impôs a outros que assinassem o não interesse e acabou por ser a 14.ª da lista, Mariana Mortágua, a nova estrela admitida. Perfeito! Houve uns tipos, umas centenas, a protestar, protestar, mas ficaram a falar sozinhos. Sem direito a parangonas. Porque os adversários políticos do Bloco vivem entre a indiferença e o próprio umbigo, e os opinadores de serviço assobiaram para o lado.
Enquanto o Bloco não avança com a ideia peregrina de tentar penalizar os piropos, até nem se corre risco nenhum em elogiar o bom ar de Mariana Mortágua - no mínimo em empate técnico de simpatia e atratividade com Ana Drago.
Mas, assim como assim, assinalada a derrota no processo da nova lei autárquica, é de enfatizar o apregoar de princípios apenas para terceiros.