Não é pelo recuo ou redirecionamento das tropas, não é pela destruição bárbara das infraestruturas de um país e anexação de parcelas - porque a Rússia nunca retirará completamente do território ucraniano -, mas é certo que Putin já perdeu a guerra, precisamente no único plano em que precisava de a vencer e que consiste na influência sobre a liberdade económica da Ucrânia.
Corpo do artigo
A propaganda de Moscovo bem tenta tornar claras teorias obscuras sobre a predominância dos nazis na classe dirigente ucraniana e ameaças à segurança da Rússia, mas a grande preocupação de Putin é mesmo a aproximação de Kiev ao Ocidente. Se o objetivo era impedir que acontecesse, os efeitos da demanda belicista e sanguinária foram em sentido oposto ao esperado. Nunca nos últimos anos a União Europeia (UE) esteve tão empenhada em acolher a Ucrânia, como atesta a visita de Ursula von der Leyen ao país, transportando uma pasta diplomática com uma espécie de convite para a entrada na organização que lidera. Putin bem pode erguer diques militares nas águas da Ucrânia e mastigar o Donbass até o engolir. Não será suficiente para impedir a intensificação das trocas comerciais entre o Governo de Zelensky e o Ocidente. E, esse sim, mais do que todos os dogmas proclamados pelo Kremlin - ao contrário das portas abertas na UE, não é verosímil que a Ucrânia algum dia integre a NATO -, é o problema maior de Putin, o líder russo que a História se encarregará de julgar como o maior perdedor.
Claro que, neste como noutros conflitos, também os povos entram na estatística dos derrotados, ao pagarem a guerra com a vida. E nesse particular, como se pode perceber na reportagem assinada pelo enviado à Ucrânia Rui Polónio, no JN, em matéria de atrocidades, nenhum dos lados está inocente. Esta é a realidade e o resto é propaganda. Como a de Putin.
*Chefe de redação