O tema do financiamento dos sistemas de saúde vai estar cada vez mais na ordem do dia. Trata-se de um desafio para o qual vamos ter de encontrar novas respostas, uma vez que as que temos vindo a utilizar tendem para o esgotamento. Esta é uma questão que preocupa e vai continuar a preocupar os decisores dos países com sistemas de saúde estruturados. E não só os decisores, também nós, os cidadãos, vamos ter mesmo de olhar muito seriamente para este assunto.
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Como geralmente acontece, ganham vantagem os que se antecipam e os que abordam os grandes desafios pelo lado da oportunidade que os mesmos podem gerar.
É para mim claro, e julgo que o será para todos, que não é sustentável mantermos a trajetória da evolução da despesa que se tem observado ao longo dos últimos anos. Os recursos são finitos e mais dinheiro para a saúde vai querer dizer menos dinheiro para outras áreas, como a educação, a segurança social ou a defesa.
Por outro lado, a pressão do lado da procura vai continuar a aumentar: o envelhecimento populacional e a exigência, e bem, de maior qualidade na prestação de cuidados assim o determinam.
Como vamos então resolver esta difícil equação que passa por fazer mais com os mesmos ou mesmo com menos recursos?
A melhor solução, que começa finalmente a ganhar adesão, passa pela promoção da saúde e pela prevenção da doença. Tem um ponto fraco: os resultados demoram muitos anos a aparecer.
Pelo que, a resposta, no mais imediato, passa pela tecnologia e pela visão de conjunto. Mais, melhor e mais inteligente tecnologia, na prestação de cuidados, especialmente ao nível da gestão, articulada com uma abordagem integrada de toda a cadeia de valor.
A pedra de toque parece ser a gestão. Desde logo, na maximização do principal ativo, os recursos humanos, mas também na digitalização e na utilização do potencial, aparentemente infinito, dos dados.
Nesta linha, afiguram-se ainda como desejáveis opções estruturantes como a separação entre o financiamento e a prestação, ou a introdução de lógicas efetivas de liberdade de escolha, num quadro de orientação para a promoção da eficiência e para o valor percecionado pelo paciente, enquanto cliente.
Numa outra perspetiva, a abordagem integrada da cadeia de valor constitui caminho que vale a pena aprofundar e trabalhar na resolução ou minimização da equação acima referida.
Com efeito, em vez de persistirmos em continuar a olhar a saúde apenas como um custo, temos de a ver como um motor do desenvolvimento económico e social, enquanto geradora de emprego e de exportações. Não é impossível, em meia dúzia de anos, passarmos a ter uma balança comercial de produtos de saúde superavitária. O potencial existe e os diagnósticos estão feitos. Bastará querermos.
*Diretor-executivo do Health Cluster Portugal